Em uma entrevista recente feita à revista Veja, publicada no YouTube, o historiador Leandro Karnal argumenta que um desafio atual da escola é estimular o senso crítico do estudante. Nesse sentido, há uma questão fulcral na afirmação do professor já muito difundida historicamente, mas pouco praticada no ensino brasileiro: o papel da instituição escolar frente às necessidades sociais na atualidade. De fato, reafirmo sempre a minha defesa a favor da educação institucional (tenho conhecimento básico, passei pelo nível superior, ingressei na pós-graduação muito cedo e acumulo dezenas de cursos profissionalizantes; leio muito e continuo meus estudos até hoje) e gostaria que houvesse melhor investimento nesse setor, pois é fundamental que crianças e adolescentes tenham acesso ao saber científico de qualidade; já os adultos, ao ensino superior, já que a universidade alavanca conhecimento e melhor remuneração no mercado de trabalho. No entanto, vale a reflexão: embora a continuidade escolar defina prestígio social e valorização empregatícia, podemos considerar o doutor um ser humano incrível, capaz de modificar positivamente a sociedade na qual ele esteja inserido?
Em princípio arguitivo, reforço que as civilizações históricas mais evoluídas são conhecidas, também, pelo desenvolvimento científico, base para o conhecimento moderno. Em viés filosófico, Aristóteles, na Grécia Antiga, afirmava que a educação tinha o objetivo de fazer as pessoas atingirem a excelência moral. Nessa ótica, se articulada tal afirmação aos tempos hodiernos, então, em tese, o conhecimento seria capaz de promover melhores vivências. No entanto, já tendo frequentado universidades públicas e privadas, locais nos quais fui ensinado por mestres e doutores, reafirmo que passaram por mim raras pessoas verdadeiramente empáticas e calorosas, e muitos indivíduos frios, vaidosos e pouco acessíveis, imersos em pedestais imaginários. Para sair um pouco do cunho pessoal, vale lembrar figuras públicas bem escolarizadas: Vladimir Putin, responsável por diversas mortes desde a invasão na Ucrânia, possui diploma universitário pela Universidade Estatal de Leningrado (São Petersburgo), e Maduro, presidente venezuelano, quem acumula acusações feitas pela Organização das Nações Unidas por violar Direitos Humanos e investigações orquestradas pelo Tribunal Penal Internacional por perseguir e torturar políticos opositores, jornalistas e manifestantes, estudou Filosofia em cursos de formação em Havana. Enfim, tais constatações reforçam o caráter dissonante entre educação e humanidade.
Em ampliação, ainda que o conhecimento seja uma importante ferramenta de câmbio financeiro e um forte componente para a ascensão social, principalmente se ofertado a seres com consciência social, também se torna arma quando manipulado por pessoas com intenções maldosas. Nesse viés, vejo líderes, da política à religião, difundindo um ódio mascarado por interpretações oportunistas e distorcidas – vale destacar que grande parte dessas pessoas possui curso superior. A exemplo disso, antes de se tornar padre, o candidato ao cargo cursa Filosofia e Teologia. Ademais, líderes evangélicos com outras formações universitárias rebanham fiéis em discursos polêmicos, que menos têm a ver com amor de Cristo e mais com segregação. Então, destaco um fato bíblico controverso em Mateus 27, porém que lê bastantes atitudes dos falsos sábios contemporâneos: Jesus foi condenado à morte pelos doutores da lei.
Em suma, reitero que a educação é fortalecedora de conhecimento acadêmico, mas não conduz ao bem quem tem tendência ao mal. Em realidade, um país só garante sua grandiosidade por meio da sustentabilidade, e o setor educacional é o grande garantidor desse valor tão fundamental na atual conjuntura. Assim, em considerando o caráter paradoxal da educação, ora libertadora, ora ferramenta aprisionadora, soberba e segregadora, lanço a dúvida: com nossos diplomas e títulos acadêmicos, agimos como fariseus ou propagamos o amor cristão? Viva a (verdadeira) educação!
Professor Franco de Paula é graduado em Letras pela Unesp de S. J. Rio Preto. Além disso, possui formação em Pedagogia e pós-graduação em Gestão e Organização da Escola com Ênfase em Coordenação e Orientação Escolar.