Através do uso de telefones celulares, computadores ou televisores, as pessoas podem aprender, se divertir e interagir uns com os outros. No entanto, estar na frente das telas por longos períodos de tempo pode ter efeitos nocivos à saúde.
Os ritmos circadianos do nosso corpo (mudanças físicas, mentais e comportamentais que seguem um ciclo de 24 horas e respondem principalmente à luz e à escuridão) são afetados pela exposição às telas dos aparelhos eletrônicos.
Dados do Instituto Nacional de Ciências Médicas Gerais dos Estados Unidos, mostram que a luz dos dispositivos durante a noite pode confundir os relógios biológicos causando consequentemente distúrbios do sono e acarretando outras condições médicas crônicas, tais como obesidade, diabetes ou depressão. Exercícios físicos são benéficos para o sono e muitas vezes o tempo de tela faz as pessoas não praticarem as atividades físicas.
Os jogos eletrônicos e redes sociais fazem com que algumas crianças fiquem “viciadas” nos dispositivos e liberam muita dopamina (um neurotransmissor que gera uma sensação de bem-estar). Todavia, quando os caminhos de recompensa são usados em excesso, eles se tornam menos responsivos e é necessário cada vez mais estímulo para experimentar o prazer.
Passar muito tempo diante de uma tela afeta o desenvolvimento cerebral e aumenta o risco de distúrbios cognitivos, emocionais e comportamentais em adolescentes e jovens adultos. É o que explica o artigo “Demência digital na geração da Internet: o tempo excessivo de tela durante o desenvolvimento do cérebro aumentará o risco de doença de Alzheimer e demências relacionadas na vida adulta”, publicado no Journal of Integrative Neuroscience em 2022. O estudo cita que o tempo de tela excessivo afeta negativamente a atenção e a concentração, a aprendizagem e a memória, a regulação emocional e o funcionamento social, a saúde física, e o desenvolvimento de distúrbios mentais e de uso de substâncias.
Um artigo publicado no Journal of Integrative Neuroscience vai pelo mesmo caminho e também adverte que os circuitos neurais subjacentes às habilidades cognitivo-comportamentais essenciais para a inteligência geral e adaptabilidade durante toda a vida são subdesenvolvidos ou anormalmente desenvolvidos antes da idade adulta. Sendo provável que essas mudanças persistam na idade adulta precoce e média e sejam mais vulneráveis à neurodegeneração acelerada na idade adulta tardia, o que aumentará o risco de leve comprometimento cognitivo e doença de Alzheimer precoce e demências relacionadas.
Reduzir o uso de telas na infância pode melhorar o desempenho de tarefas que envolvem memória e atenção. Além disso, estudos de especialistas apontam que o uso de eletrônicos por mais de uma hora ao dia também piora a capacidade de regular comportamentos e emoções.
Crianças pequenas que passam no máximo uma hora por dia em frente às telas e são fisicamente ativas têm melhor desempenho em habilidades que envolvem: memória, atenção e controle das emoções,
Até os 5 anos, o cérebro se desenvolve rapidamente, com grande proliferação dos neurônios e conexões entre eles, formando a base para o funcionamento cerebral durante a vida. Após essa idade, cai a velocidade com que as conexões são feitas.
Uma criança que não desenvolve bem as habilidades de comunicação, interação social e funções executivas durante a infância certamente terá prejuízos em seu funcionamento nas fases posteriores da vida. Mesmo que seja difícil erradicar os dispositivos eletrônicos da rotina, o uso deve ser minimizado. Bebês com menos de dois anos não deveriam ter acesso a eles.
Entre dois e cinco anos, o tempo máximo de telas deve ser uma hora por dia, segundo a recomendação da Academia Americana de Pediatria. Isso porque os jogos de videogame, por exemplo, estimulam aspectos de recompensa rápida ativando centros cerebrais relacionados à impulsividade e à dificuldade do controle inibitório. Podem ser fonte de situações de frustração e irritabilidade, além de deixar as crianças mais agitadas. Já os desenhos animados, mesmo aqueles com conteúdo considerado “educativo”, não são muito úteis para desenvolver habilidades cognitivas e de linguagem. Estudos mostram que o mesmo conteúdo transmitido por meio de uma tela tem um efeito pior em termos de aprendizado do que se for transmitido presencialmente.
Quanto mais “viciada” a criança, maior o prejuízo a longo prazo. Isso aumenta a chance de problemas de atenção e hiperatividade, obesidade, sono, baixo rendimento escolar e dificuldade de interação social.
Ainda está em tempo de mudar os hábitos de seus filhos! Além das atividades físicas que favorecem aspectos motores, de interação social e melhoram o bem-estar, esse estímulo pode ser feito através de atividades e brincadeiras que estimulam atenção e concentração, como jogos de tabuleiro, quebra-cabeças e jogo de memória. Atividades de relaxamento e meditação para crianças também auxiliam.