Síndrome de Peter Pan: o adulto que não quer crescer

Certamente você conhece alguém que parece não ter saído da infância, não se adapta à vida adulta, com dificuldades em lidar com responsabilidades e compromissos, com interesses e comportamentos típicos das crianças. Essas características foram denominadas pelos psicólogos como “Síndrome de Peter Pan”.

O indivíduo nessa síndrome continua a agir como criança mesmo depois de já estar na vida adulta. Ocorre mais em homens e raramente em mulheres. Na história infantil o Peter Pan é tido como o menino que nunca cresce. A síndrome é caracterizada por imaturidade e dificuldade em aceitar a chegada da idade adulta, podendo vir acompanhada de um comportamento narcisista. Ressalto que a síndrome de Peter Pan não tem indícios de ser uma doença psicológica real e, portanto, não está registrada nos manuais de transtornos mentais.

A pessoa tem grande dificuldade em ver-se como um adulto e desvencilhar-se totalmente de seu papel de criança para crescer. Dessa forma age constantemente de forma infantil, imatura, rebelde e inconsequente e, quer ser compreendida e aceita em sua forma de ser e agir. No entanto, a síndrome não tem relação com o desenvolvimento intelectual do indivíduo, mas apenas com sua maturidade e com suas emoções.

Ao invés de ter seu curso normal da vida e deixar para trás sua fase dependente como filho, a pessoa que sofre com essa síndrome rejeita assumir seu papel de pai, marido, profissional etc. e fica imersa num universo repleto de comportamentos infantilizados. Querendo manter-se criança.

Entre as características principais da Síndrome de Peter Pan temos:

  • Dificuldade em expressar emoções e sentimentos;
  • Procrastinação (deixar as responsabilidades e problemas para depois);
  • Incapacidade de construir vínculos profundos em relacionamentos (inclusive em amizades);
  • Negação de culpa (a culpa é sempre de outra pessoa);
  • Sentimento de raiva e culpa em relação à mãe e desejo de estar perto do pai em busca de proteção;
  • Distúrbios sexuais (baixo desejo pelo desenvolvimento da vida sexual).

Outro aspecto percebido é o comportamento narcisista, em que o indivíduo quer sempre ser o centro das atenções, A pessoa sente medo de levar seus relacionamentos a um estágio de compromisso mais sério. Por fora, podem parecer pessoas inteligentes e engraçadas, mas também podem ser bastante manipuladoras. Mesmo fazendo algo por alguém, constantemente esperam algo em troca, como costumam fazer as crianças.

Nessa síndrome de Peter Pan é como se esses indivíduos “pulassem” a adolescência. Vivenciam uma infância prolongada, sem sentirem os amadurecimentos psicológicos da adolescência (apenas o amadurecimento físico ocorre). Já se dão conta de que são adultos, sem que tenham passado pelas transformações emocionais típicas do adolescente.

Isso pode acontecer em virtude de traumas ligados à primeira infância, ou por situações em que a pessoa teve que lidar com grandes responsabilidades muito jovens. Crianças que se tornam responsáveis pelo sustento financeiro de uma casa, que perdem os pais muito cedo, ou que não receberam amor e carinho nessa fase estão mais suscetíveis ao desenvolvimento do problema.

Alimentar esses comportamentos leva o indivíduo a problemas emocionais, o que impacta a capacidade de amadurecer, crescer e honrar seus compromissos pessoais e profissionais. A pessoa sofre de sérios bloqueios em assumir e manter relacionamentos amorosos duradouros, ou mesmo amizades. São observados na vida adulta problemas de ordem sexual, psicológica, financeira e social, além de forte dependência emocional dos pais.

Existe uma grande contradição: ao mesmo tempo em que teme ser abandonado e ficar sozinho ou isolado, como uma criança de castigo; o indivíduo possui dificuldade de criar um vínculo afetivo mais profundo com outra pessoa e firmar uma relação positiva. Vivem saindo e entrando de amizades e relacionamentos amorosos, sem construir laços profundos.

O primeiro passo para solucionar esse problema é o indivíduo admitir que tem um problema. É preciso aceitar e encarar a realidade e reconhecer que seus hábitos não condizem com o estágio atual de sua vida. Permanecer assim é tóxico a si mesmo.

Adquirir a maturidade significa entender que não podemos fazer apenas o que queremos e quando queremos. Ser adulto implica cumprir obrigações e, sem elas, fica impossível viver. Pais não são eternos, e, um dia, todos nós precisamos ser responsáveis por nós mesmos. É importante estabelecer limites de conduta.

A pessoa também precisa compreender que não é perfeita, que erra e que precisa assumir a responsabilidade sobre eles. Culpar sempre o outro é um comportamento infantil a ser evitado. Acertando ou errando, o indivíduo deve acostumar que todos os seus atos têm consequências.

Quando possui dificuldades ou reluta em modificar esses comportamentos, é sempre importante procurar ajuda de um psicólogo, que são profissionais que possuem os conhecimentos e técnicas necessárias para ajudar a pessoa a compreender o que se passa com ela e a adotar novos hábitos.