Relacionamento abusivo e suas consequências

Quando as pessoas resolvem entrar num relacionamento amoroso, a forma como esse caminho é trilhado depende não só da bagagem emocional que cada participante traz para a relação, como também da forma como suas histórias pessoais são combinadas. Na relação amorosa, cada um traz consigo suas emoções, adquiridas ao longo de sua vida.

Quando falamos em relacionamentos abusivos englobam violência física, sexual e psicológica. O abuso mantém a relação de poder do abusador sobre o abusado, que é tido como o seu objeto.

Estudos consideram o relacionamento abusivo como aqueles em que ocorre excesso de poder e de controle, culminando no sentimento de posse, na objetificação do outro. Esses relacionamentos iniciam de maneira sutil e podem ultrapassar os limites do que se constitui como “sadio”.

Entre as características do relacionamento abusivo a principal é o controle do agressor para com a vítima, além de culpabilizá-la, tornando-a completamente indefesa em relação a ele.

As pessoas que chegam na posição de abusadas relatam que grande parte das vezes se deram conta do poder que o outro estava exercendo sobre elas ou da manipulação que ocorria por parte do abusador em um momento onde a violência tornou-se mais evidente.

Grande parte das pessoas continuam nesses relacionamentos abusivos. Um dos pontos que explica isso é a dificuldade das pessoas perceberem que estão em uma relação abusiva. Como sinais iniciais, estão alguns comportamentos e ações muito sutis, que aparecem aos poucos e demandam certo tempo para se agravarem.

É comum os abusadores prometerem mudanças tanto no comportamento que apresentam (agressivo, possessivo, ciumento, violento, explosivo), quanto no relacionamento como um todo. O abusado pode estar ciente do relacionamento abusivo, mas, normalmente, acreditam que o parceiro mudará. O abusador costuma alternar o seu comportamento: em dado momento é descrito como romântico, sensível, preocupado e, em outro, irreconhecível. Seu discurso envolve um jogo emocional.

O abuso possui um ciclo. Esse tem como semelhança algumas fases que envolvem o comportamento do abusador. Primeiro os casais vivem a fase da “lua de mel”, marcados por muita proximidade, romantismo, muitas promessas para o futuro. O relacionamento parece não comportar nenhum defeito porque é como se aquele momento de conquista fugisse do real. Nessa fase tem um tempo determinado para a durar. No entanto, com a convivência, os ciúmes ficam aparentes, o sentimento de posse também vai ganhando lugar, e um passa a impor limites sobre o outro. Essa fase pode resultar em explosão na qual as brigas e a violência atingem seu ápice: violência psicológica, que pode vir acompanhada em algum momento da física ou sexual. Nesse momento o abusador ou a abusadora podem ficar irreconhecíveis. Nessa fase, os termos “monstro”, “agressivo”, “violento” e “doente” surgem. Mas, como é um ciclo, tais comportamentos não param nessa fase. Essa fase marca o momento em que a maioria das pessoas pede ajuda. Contudo, as fases se repetem várias vezes até a tomada de consciência, podendo ser a fase final para algumas ou a fase que reiniciará o ciclo para outras.

Na fase acima a pessoa abusiva normalmente discursa o arrependimento, coloca a possibilidade de mudanças ou transfere a culpa de modo que o outro a assuma. É comum ouvir que o abusador “tinha ciúmes ou não gostava de determinadas pessoas”, assim, o abusado foi no decorrer do tempo diminuindo a sua rede social e, consequentemente, perdendo contatos importantes. Dentro do jogo emocional, o abusador também é capaz de inferiorizar o abusado. Assim, o sujeito ao tentar sair da relação, geralmente sustenta a baixa estima e sente-se sozinho. Há uma falta de confiança em si e no outro ou um sentimento de descrédito das outras pessoas. Muitos abusados dependem da renda do abusador. Muitas mulheres acabam por permanecer no relacionamento abusivo por serem dependente financeiramente do homem.

Um relacionamento tem o encantamento inicial que é a fase de idealização. No relacionamento abusivo, a tensão precede o encantamento e situações irrelevantes provocam “tempestades em copo d´água”, o abusado sente-se confuso ou culpado.  Depois ocorrem as brigas, abusos verbais, emocionais e físicos. A pessoa abusadora convence o seu alvo de que este último o fez perder a cabeça e busca minimizar o ocorrido. A fase de lua de mel é então vivenciada e as juras de amor e promessas ocorrem. Vale ressaltar que os abusados podem ser homens ou mulheres.

O contínuo abuso emocional e psicológico de uma relação onde existe controle e submissão causa traumas sérios. A pessoa abusada pode desenvolver problemas de autoestima, depressão, isolamento, fobia, problemas de saúde graves, etc. A violência doméstica pode provocar problemas físicos graves, com sequelas e até mesmo morte. Os filhos também sofrem o impacto, podendo trazer consequências para o resto da vida deles. Eles também podem sofrer violência física e psicológica por parte do abusador. Entre as consequências mais comuns de um relacionamento abusivo estão a ansiedade e depressão. O abuso emocional pode ser mais prejudicial do que o abuso físico, já que termina por desintegrar de forma lenta a própria individualidade e valor pessoal, provocando cicatrizes psicológicas por toda a vida.

A intervenção num relacionamento abusivo é muito difícil pelo fato da vítima não conseguir se ver num relacionamento assim. A culpa e o medo são as principais razões para essa percepção distorcida da realidade. É preciso que a vítima possa libertar-se das amarras de seu estado emocional, podendo reconstruir novamente seus laços sociais e retomar sua vida. A ajuda de um psicólogo é desenvolver sua autoconfiança e autoestima para libertar-se da relação tóxica e/ou para que a pessoa possa superar este trauma.