Matrícula e material escolar, IPVA, plano de saúde, seguro do carro, IPTU… a pilha de despesas que chega no início do ano representa sempre um desafio para as famílias.
Apesar de não ser novidade, a sucessão de responsabilidades financeiras em janeiro, fevereiro e março ameaça a estabilidade do orçamento dos brasileiros, podendo, inclusive, desencadear um efeito dominó que não apenas impacta a saúde financeira imediata, mas compromete a viabilidade econômica nos meses que se seguem.
Recentemente, uma pesquisa feita pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) apontou que 76,6% das famílias estão endividadas no país. Neste cenário desafiador, o que fazer para sair do “vermelho”?
Para Diego Rodrigo Muller, diretor operacional da Rissi Contabilidade Médica, estruturar um planejamento financeiro é uma boa opção para passar 2024 no “azul”.
Tudo no papel
À primeira vista, elaborar um planejamento financeiro parece desafiador, mas com uma abordagem proativa, o processo vira uma ferramenta valiosa para alcançar estabilidade e tranquilidade econômica.
Diego Muller explica que o primeiro passo para estruturar um bom planejamento financeiro é, literalmente, colocar “tudo no papel”.
“As pessoas precisam visualizar a renda e os gastos fixos e móveis. Ou seja, devem considerar o salário, as contas de todo o mês, as despesas eventuais, dívidas com juros elevados e os valores das parcelas. Ao dar uma olhada na situação financeira como um todo, fica mais simples entender quais compromissos já foram assumidos, permitindo avaliar o quanto da renda vai restar ou faltar para manter o equilíbrio do orçamento”, conta.
Algumas pessoas têm facilidade para fazer o planejamento financeiro no papel, enquanto outras possuem mais dificuldade. Para aquelas que não estão acostumadas, existem planilhas e aplicativos gratuitos para ajudá-las a se organizar melhor.
“As ferramentas estão aí, mas as pessoas precisam dar o primeiro passo e ter na cabeça que devem entender a própria situação financeira. O mundo que vivemos hoje é incógnita. A qualquer momento pode aparecer uma despesa sem que as pessoas tenham o dinheiro guardado. E isso é complicado”, diz.
Reserva financeira
Segundo o diretor operacional da Rissi Contabilidade Médica, é aconselhável reservar, no mínimo, 30% do salário com o propósito de constituir uma reserva específica destinada a lidar com imprevistos financeiros.
“A gente sabe que é difícil isso acontecer, mas é muito importante começar. Caso seja impossível guardar 30%, tente economizar 10% e vá aumentando cada vez mais. Se ainda sobrou um pouco do 13º salário, use a quantia para quitar as contas do primeiro semestre, como IPTU, IPVA, material escolar e matrícula”, conta.
Para quem tem conta atrasada, a principal dica que Diego Muller dá é priorizar as que estão vencidas há mais tempo e têm juros maiores em relação a outras.
Pagar essas dívidas primeiro é uma boa escolha, especialmente à luz das recentes mudanças na legislação que regulamenta os juros rotativos do cartão de crédito no Brasil.
“Agora, com a mudança, se a dívida original for de R$ 100, por exemplo, o valor total a ser pago pelo cliente, com a cobrança de juros e encargos, não poderá exceder R$ 200. Se a pessoa tem uma dívida muito antiga, seja com cartão de crédito ou banco, as empresas fazem, anualmente, os feirões para limpar os nomes das pessoas, oportunidade nas quais existem descontos de 90 a 95% nos juros”, afirma.
Para quem não possui dívidas, o diretor operacional da Rissi Contabilidade Médica orienta a importância de também criar uma reserva financeira sólida.
Mesmo sem pendências, é fundamental estar prevenido diante de possíveis imprevistos, garantindo uma base estável e preparada para eventualidades.
“Fazer investimentos seguros é uma ótima alternativa, principalmente com a facilidade que os aplicativos trouxeram. Além disso, as pessoas devem se programar para fazer os pagamentos à vista, evitando parcelamentos. Parcelar não é um grande problema, mas é importante ter em mente que novas contas podem surgir enquanto as parcelas não terminaram”, afirma.