A linguagem – isso já é consenso na teoria do texto – deve ser lida e interpretada em seus mais variados níveis. A situação comunicativa diz muito sobre a expressão construída por meio da palavra. Em ampliação, há um debate inacabável sobre como distinguir fato de opinião. Ora, o fato, quando lido, passa pela percepção de alguém, uma leitura individualizada, e essa discussão é ampla e já dura milênios: Platão e Aristóteles têm reflexões importantíssimas sobre a linguagem como parte do pensamento filosófico. Assim, coloco uma interrogação: como aplicar a imparcialidade na leitura de um ocorrido, a fim de estimular a interpretação do leitor, e de que forma a educação midiática pode se solidificar no Brasil atual?
A priori, concordo que as teorias sociais têm papel importante na formação da opinião coletiva, e a Comunicação Social visa a leitura responsável dos fatos em aspectos políticos, sociais, econômicos e tecnológicos. No que tange ao último, as mídias sociais on-line possuem vantagens significativas no que se refere ao alcance da grande massa, pois a popularização da internet favorece a disseminação de opiniões de fontes muitas vezes duvidosas. Apesar da desinformação, pessoas “compram” ideias alheias e, infelizmente, confundem fatos ou comprovações científicas com opiniões ou achismos. Em oposição ao pensamento retrógrado, sabemos que há correntes as quais defendem a importância da educação midiática atrelada à união entre líderes sociais, especialistas, professores e demais representantes de instituições públicas e privadas.
Entretanto, apesar das comprovações e das veiculações dos resultados alcançados por meio de análise técnica, experiência coletiva e prova, ou produção científica que conta com ferramentas e conhecimentos capazes de se alcançar uma tese sólida, indivíduo reduzem o conhecimento ao que há de mais raso no argumento, com conclusões equivocadas, pautadas em opiniões pouco construídas. Em 2021, foi lançado na Netflix o filme “Não olhe para cima”, de Adam McKay, o qual aborda questões importantíssimas que ao encontro dessa confusão que tanto atinge o cotidiano brasileiro. A obra é certeira nas críticas: negacionismo, espetacularização da notícia, machismo, poder dos bilionários, discurso anticiência. Ademais, há uma crítica evidente sobre o poder o qual as redes sociais e o mundo da internet têm de impor uma definição do mundo ao sujeito. A partir dessa referência, torna-se evidente que as opiniões superavam os fatos ou as comprovações científicas que alertavam a população, tal como ocorreu com a cientista Kate, a pesquisadora a qual descobriu que um meteoro iria extinguir a vida na Terra, resultando no silenciamento dela.
Enfim, reafirmo não haver nada de errado em se ter uma opinião acerca de um determinado assunto, pois o debate tem como base o argumento, mas também possibilita a construção de ideias mais livres, entretanto é inadmissível o homem negar a existência de estudos sérios e insistir no senso comum. Em adição, é de extrema valia saber separar o discutível do indiscutível, como no caso de um conflito sério ou de um tema de interesse coletivo e já conduzido pela ciência. No que diz respeito ao ambiente virtual, vejo ser imprescindível checar a fonte da matéria, o veículo e o autor que assina o texto, além do endereço eletrônico, dos dados apresentados no corpo do escrito; é claro, não acreditar em teorias conspiratórias, as quais sejam apresentadas de maneira passional, intencionando aflorar os sentimentos dos leitores, em forte apelo emocional. Que as pessoas olhem para cima, mas também para baixo, direita, esquerda, centro, independentemente da figura que esteja no poder.
Professor Franco de Paula é graduado em Letras pela UNESP de S. J. Rio Preto. Além disso, possui formação em Pedagogia e pós-graduação em Gestão Escolar.