O trabalho como fonte de prazer ou sofrimento

O trabalho é a atividade pela qual o indivíduo transforma o seu meio externo e, neste processo, se transforma. Na sociedade, o trabalho permite o acesso ao consumo de bens e serviços, mas sua função está além deste fato, pois o trabalho também está associado ao reconhecimento e à honra. Os indivíduos frequentemente são reconhecidos pela profissão que exercem ou exerceram, constituindo o trabalho como fonte de realizações, gratificações pessoais e reconhecimento (SILVEIRA, 2009).

Compreender o que é o trabalho e sua importância na construção da sociedade e da identidade dos indivíduos perpassa pelo entendimento de como a saúde e a doença das pessoas podem ser influenciadas pelas atividades que elas exercem (SILVEIRA, 2009).

O termo Qualidade de Vida (QV) compreende as condições gerais da vida de um indivíduo. Sendo este termo definido pela Organização Mundial da Saúde, para designar a percepção do indivíduo sobre sua posição na vida, envolvendo sua cultura e sistema de valores (CINTRA & DALBEM, 2016), com conceito amplo, considerando seis domínios: físico, psicológico, nível de independência, relações sociais, meio ambiente e crenças pessoais (LIMONGI-FRANÇA, 2009)

No âmbito da saúde do trabalhador, além do estado físico, também deve ser considerado o fator psicológico. É necessário partirmos da compreensão que uma mesma atividade laboral, pode ser para os indivíduos experiência geradora de alegria ou de tristeza, de prazer ou de sofrimento (RIBEIRO & MARTINS, 2012). O trabalho está ligado ao afeto. A ideia de afeto gera binômios paralelos: amor e ódio, alegria e tristeza, entusiasmo e desânimo, aspiração e desprezo. Considerando que a origem do sofrimento, por sua vez, tem suas raízes na história singular de toda pessoa e que o sofrimento é individualizado e dependente da construção social e psíquica de cada pessoa, isso, invariavelmente, acaba repercutindo no ambiente de trabalho (DEJOURS, 1994).

A Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT) (2019), afirma que as condições de trabalho podem causar riscos psicossociais e todos devem ficar atentos, podendo ocorrer as cargas de trabalho excessivas; a comunicação ineficaz; a falta de apoio; o assédio e a violência de terceiros; a falta de participação na tomada de decisões; a ausência de controle sobre a forma como o profissional executa o trabalho; as exigências contraditórias; a falta de clareza na definição das funções; a gestão insuficiente de mudanças organizacionais; a insegurança laboral.

Diversos aspectos como características da tarefa, a carga mental, o grau de autonomia, a interação com outras pessoas, o ambiente de trabalho e o nível de satisfação exercem consequências sobre a saúde do trabalhador (ALVIM et al., 2017). No trabalho, o sofrimento psíquico está associado ao desgaste, a falta de apoio social e ao sentimento de insegurança. As pressões, o conflito de interesse e a sobrecarga, levam à deterioração da saúde mental manifestada principalmente pela depressão (BOURBONNAIS et al.,1998) Em vigor desde 1º de janeiro de 2022, ainda sem tradução oficial para o português, a CID 11 apresenta a Síndrome de Burnout caracterizada pelo código QD85 e definida como um fenômeno ocupacional, não sendo considerada uma doença, mas sim um fator que influencia o estado de saúde ou o contato com os serviços de saúde e que pode gerar afastamento do trabalho (OPAS, 2019). De acordo com a CID 11, a Síndrome de Burnout é resultante do estresse crônico no local de trabalho, que não foi gerenciado com sucesso, podendo ser identificada por três dimensões: 1) sentimentos de exaustão ou esgotamento de energia; 2) aumento do distanciamento mental do próprio trabalho ou sentimentos de negativismo ou cinismo relacionados ao próprio trabalho; e 3) redução da eficácia profissional (OPAS, 2019). Para os trabalhadores da saúde, o estresse e a pressão de lidar com o trabalho somado ao risco de adoecer, provocam severos problemas de saúde mental. A saúde destes trabalhadores necessita que sejam adotadas medidas de prevenção tanto referente aos aspectos biológicos quanto aos aspectos psicossociais (SILVA et al., 2022).

Conforme a pesquisa da Gattaz Health & Result, 18% dos profissionais brasileiros sofrem com o transtorno, e em âmbito mundial, um total de 39,6 milhões de indivíduos já foram diagnosticados, segundo dados da 72ª Assembleia Mundial de Saúde, de 2019.

Estes números servem de alerta para gestores de empresas, e as corporações e lideranças buscam, cada vez mais, adotar medidas para garantir um ambiente profissional saudável, e proteger a saúde mental dos colaboradores. O burnout pode ser resultado da gestão inadequada de equipes.

Entre os principais sintomas do burnout estão: cansaço excessivo, físico e mental, dor de cabeça frequente, alterações no apetite, insônia, dificuldades de concentração, sentimentos de fracasso e insegurança

Entre as formas de evitar o transtorno em sua equipe temos:

  1. Alinhe valores. Ao alinhar valores da empresa e o propósito da função com o trabalho de cada um, o time se sente pertencendo e alinhado em relação a motivação de todos.
  2. Crie um ambiente seguro. Um ambiente de trabalho em que as pessoas se sintam seguras e confortáveis e assumir riscos nas suas relações interpessoais. Assim, os colaboradores compartilham ideias, sentem-se incluídos e contribuem mais para a equipe.
  3. Reconheça o time. Uma equipe tem sempre diferentes tarefas a desempenhar, e saber que cada uma delas é importante é fundamental para criar uma cultura de apreciação. O reconhecimento é necessário para que uma equipe continue se desenvolvendo e se empenhando para a entrega de resultados. Reconhecemos o esforço dos colaboradores mostramos que eles fazem diferença e isso aumenta a produtividade.