Na era das redes sociais, a identidade tornou-se um espetáculo constante. Não basta ser, é preciso parecer: parecer interessante, produtivo, desejável. A experiência do eu, antes uma construção subjetiva, agora passa pelo crivo da audiência digital. Mas a que custo?
A psicanálise nos ensina que a busca por reconhecimento faz parte da estrutura psíquica. Desde a infância, o olhar do outro nos constitui. No entanto, a cultura digital amplificou essa dinâmica, deslocando o desejo para a validação instantânea. Freud descreveu o Eu Ideal como a imagem que buscamos construir para sermos aceitos. No ambiente virtual, esse “eu” se fragmenta em versões editadas, filtradas e planejadas para o engajamento.
O resultado é um paradoxo. O indivíduo hiperconectado sente-se, ao mesmo tempo, mais exposto e mais solitário. O que deveria ser um espaço de pertencimento torna-se fonte de angústia: a necessidade de reafirmação é incessante, e a ausência do olhar do outro gera uma sensação de inexistência.
Esse fenômeno tem consequências psíquicas significativas. A hiperexposição leva à ansiedade, ao medo de irrelevância e à dificuldade de sustentar o próprio desejo sem a aprovação externa. A cultura do cancelamento adiciona outro elemento: o superego digital, vigilante e punitivo, que transforma qualquer deslize em risco de exclusão social.
Diante desse cenário, a psicanálise propõe um questionamento essencial: quem somos quando ninguém está olhando? Resgatar a singularidade em um mundo que exige performance constante é um desafio, mas também uma necessidade psíquica. Em tempos de hiperconectividade, desconectar-se não significa isolar-se, mas reencontrar-se.
Jonathan Pereira
Psicólogo Clínico
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