Tratar o paciente exige empatia e disposição para um olhar mais profundo sobre a doença
Estamos na Campanha Janeiro Branco, que trata sobre temas da saúde mental. Essa campanha teve início em 2014 e no contexto atual tem um apelo muito mais forte: em tempos de prolongada pandemia, de crises sanitárias, sociais, políticas, ecológicas e econômicas em escala global, o mundo pede Saúde Mental.
De acordo com estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Pan-americana da Saúde (OPAS), o Brasil é o país mais ansioso do mundo (9,3%) e o segundo maior das Américas em depressão (5,8%).
Um outro estudo desenvolvido pelo FIOCRUZ e outras seis universidades nacionais concluíram que enquanto 40% da população brasileira apresentavam sentimentos frequentes de tristeza e de depressão, outros 50% da mesma população apresentavam frequentes sentimentos de ansiedade.
A depressão é um dos temas mais comuns em consultório e outro dado interessante é que está muito ligada a outra doença: a obesidade.
Transtornos alimentares podem ser desencadeados por depressão e ansiedade, que levam a compulsão alimentar, falta ou excesso de sono, sedentarismo entre outras coisas, que por fim causam diabetes, hipertensão, entre outras coisas mais graves. Tudo isso contribui para o aumento de peso.
Antes de tratar da obesidade é preciso olhar com carinho para a saúde mental, porque é a mente que comanda todo o restante do nosso corpo. A mente humana tem capacidade para fazer muito mais do que acredita, mas precisa ser estimulada.
E ao mesmo tempo, quando entra em um estado de depressão, passa a acreditar que não é capaz de fazer nada, não encontra mais sentido nem prazer em desempenhar atividades do cotidiano, buscando o isolamento e entrando em tristeza profunda.
Essa tristeza profunda e esse isolamento desencadeiam uma autoagressão, a pessoa busca formas de se autossabotar e uma delas é por meio dos maus hábitos alimentares.
Tratar da obesidade não é apenas tratar o peso na balança, vai muito mais além, é muito mais profundo, envolve crenças e padrões muitas vezes estabelecidos na infância, que a pessoa seguiu por anos sem saber que não era o mais adequado.
A depressão e os transtornos de ansiedade são, de fato, o mal do século, mas existem muito mais coisas por trás disso, que afetam significativamente a qualidade de vida das pessoas.
O mais triste, talvez, seja constatar o grande número de crianças e adolescentes que, principalmente por conta da pandemia, desenvolveram algum tipo de transtorno mental, como a ansiedade, que por consequência levaram a obesidade.
Essas questões de saúde mental precisam ser priorizadas antes de tratarmos qualquer outro aspecto do paciente, porque um mal leva a outro, até que num ciclo sem fim, muitas dessas pessoas buscam formas mais trágicas e definitivas de aliviarem suas dores. Olhar para a dor do ser humano exige empatia, e não julgamento.
Dr. Jorge Rezeck
Médico no Hospital São Jorge e Clínica Unique.
Membro titular da Sociedade Brasileira de Clínica Médica.