De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), são esperados 704 mil casos novos de câncer no Brasil para cada ano do triênio 2023-2025, com ênfase para as regiões sul e sudeste, que concentram cerca de 70% da incidência. Considerada uma das maiores causas de morte no mundo e um dos grandes desafios de saúde pública, a doença surge como consequência de alterações cumulativas no material genético (DNA) de células normais, que sofrem uma série de transformações até se tornarem malignas.
Muitas pessoas, no entanto, confundem essa origem genética do câncer com a questão da hereditariedade, conforme alerta o Dr. Carlos Fruet, oncologista da Oncoclínicas Ribeirão Preto.
“Pesquisas recentes têm trabalhado bastante no sentido de proporcionar ganhos importantes para os pacientes em termos de prevenção, detecção precoce e tratamento do câncer. O campo da hereditariedade é um dos que mais se destaca atualmente e, aqui em Ribeirão Preto, já temos a expertise para atuar na área. No entanto, é importante salientar que, embora todos os cânceres sejam causados por alterações nos genes, apenas 10 a 15%% são hereditários, ou seja, causados por mutações herdadas de pai ou mãe. A maioria são casos associados à s mudanças provocadas no meio ambiente, os hábitos – como o uso de álcool, cigarros e alimentação desequilibrada, sedentarismo – entre outros”, explica o especialista.
Aconselhamento e testes genéticos
Existem alguns sinais que podem indicar maior possibilidade de hereditariedade, como pessoas que possuem um histórico familiar com uma incidência muito expressiva de um mesmo tipo de câncer, a manifestação de mais de um tipo de neoplasia na mesma pessoa e casos de câncer em idade precoce. Diante desses quadros, o aconselhamento genético costuma ser indicado. Munido das informações iniciais, o especialista pode ou não solicitar os testes.
“Os exames analisam o DNA a partir de amostras de sangue ou saliva, em busca de mutações que aumentam o risco para determinados tipos de câncer. Saber que existe uma predisposição à presença de alterações genéticas hereditárias nos ajuda a indicarmos protocolos personalizados de rastreio e até mesmo cirurgias profiláticas”, comenta Carlos Fruet.
Foi o que aconteceu com a atriz Angelina Jolie, que, em 2013, optou por retirar as mamas e os ovários após receber um resultado genético positivo para a mutação em BRCA1. A medida foi preventiva e teve como objetivo reduzir significativamente a probabilidade de ter a doença.
As alterações no BRCA1 e BRCA2 estão mais intimamente associadas a um risco aumentado para câncer de mama, ovário, próstata e pâncreas. Entretanto, outras síndromes neoplásicas também podem elevar os riscos do desenvolvimento de câncer. O tumor colorretal hereditário sem polipose, por exemplo, é uma síndrome hereditária que pode aumentar o risco de neoplasias como cólon (principalmente antes dos 50 anos), ovário, endométrio, estômago, intestino delgado e via biliar. Já a síndrome de Cowden pode colaborar com o desenvolvimento de câncer de mama, tireóide (não medular) e diferentes lesões na pele. A Síndrome de Peutz-Jeghercom tumores de colon, mama e pâncreas, além de poder provocar manchas pigmentadas nos lábios e parte interna das bochechas. E a síndrome de Li-Fraumeni com o câncer de mama, sarcomas (ósseos e de partes moles), cérebro e carcinoma adrenocortical na infância.
O Dr. Carlos orienta que um resultado positivo não significa que a pessoa irá, necessariamente, desenvolver algum tipo de câncer. “Na maioria das vezes, o exame apenas indica um risco aumentado, o que auxilia o paciente a compreender sua situação e inspira uma rotina de cuidados mais regrada. Por outro lado, um negativo também não equivale a uma certeza de não apresentar a doença, já que a maioria dos casos de câncer não é hereditário. Por isso, a recomendação é manter-se sempre atento quando o assunto é a sua saúde”, finaliza o oncologista.