Como os efeitos do relacionamento abusivo têm se intensificado nessa pandemia, com casais confinados e, muitas vezes, isolados de amigos e familiares, continuarei abordando o assunto essa semana.
Vou iniciar com algumas frases para gerar reflexão, pois relacionamentos abusivos são muito comuns:
– Não é amor quando ele te afasta de todos os seus amigos;
– Não é amor quando você precisa se desculpar por algo que não tem culpa só para que as coisas fiquem bem;
– Não é amor quando ele te diz que você tem sorte dele te amar tanto porque ninguém te suportaria;
– Não é amor quando ele diz que se você largar dele ninguém vai te querer;
– Não é amor quando ele te impede de frequentar lugares e fazer coisas que você gosta.
As mulheres, muitas vezes, estão em casa presas com companheiros agressores na pandemia. Muitas delas tiveram de parar de trabalhar para ficarem com os filhos em casa por estarem sem escola. Há mulheres que não têm mais nem o momento de levar o filho para a escola.
O isolamento social é uma medida para conter o vírus. No entanto, essa medida tem provocado impactos negativos na vida de mulheres que já eram vítimas de violência doméstica. O isolamento social tem intensificado os conflitos familiares e obrigado mulheres a ficarem convivendo em casa com seus agressores, por um período mais prolongado. O número de casos de feminicídio também apresentou aumento em diversos Estados do Brasil e no mundo, quando comparado com o mesmo período do ano de 2019.
O Brasil registrou 649 feminicídios de janeiro a junho de 2020. Isso corresponde a uma alta de 2% em relação ao mesmo período de 2019. Outros crimes contra as mulheres, como agressão e estupro, que normalmente exigem que as vítimas registrem uma queixa policial, caíram nesse período. Isso se explica devido à dificuldade de realizar a denúncia durante o isolamento.
Num relacionamento abusivo, ocorrem os seguintes tipos de violência: verbal, emocional, psicológica, física, sexual, financeira e tecnológica (esta vai desde controle das redes sociais da vítima até insistência em obter senhas pessoais, controle de conversas, curtidas e amizades online).
Para caracterizar o relacionamento abusivo são levados em conta fatores como o sofrimento causado em uma pessoa, a frequência dos abusos e os ciclos de agressão e violência.
Nessas relações, o abusador tira o poder social da mulher em especial das pessoas que teriam condições de alertá-la. Sendo muito comum dizer que as amigas da mulher não prestam. Ocorrem desigualdade de poderes. Esses tipos de relacionamentos geram dúvidas, confusão mental, ansiedade, insegurança e esperança de que o parceiro mude e os abusos acabem. O outro se torna o centro de sua vida, onde seu comportamento é moldado como referência do que espera da vítima. Nesse relacionamento tem também partes boas: compensação e manipulação pós-abuso (falsas promessas de mudança).
Para sair de um relacionamento abusivo é preciso da ajuda de uma amiga ou psicólogo.
O abuso financeiro é um dos principais motivos para o alto número de violência contra a mulher. Quando não possuem renda própria elas são manipuladas, humilhadas, controladas e até agredidas física e sexualmente. As mulheres independentes financeiramente também entram em relacionamentos abusivos, mas a dependência financeira dificulta a saída desses relacionamentos. O abuso financeiro pode iniciar com o parceiro tomando as decisões financeiras pela mulher. Desde crianças meninos e meninas aprendem que violência pode significar amor. Nós aprendemos desde pequenos que abuso é amor, onde a criança quando apanha de um adulto o mesmo alega que foi por gostar dela. Por isso não é bom educar filhos com violência.
É importante oferecer ajuda para a vítima, perguntar como ela está, ajudá-la a entender o que ela está passando. Também é bom oferecer para ela dormir na sua casa ou ajudá-la no pagamento de um advogado ou atendimento psicológico.
Quando abusada, a mulher se sente culpada, isolada, com vergonha de pedir ajuda e sem dinheiro. Ninguém deve colocar mais culpa nessa mulher, como perguntar o que ela fez para isso acontecer, nem mesmo dizer para ela terminar o relacionamento. Para terminar o relacionamento ela precisa estar forte. Quando se exige o término, ela vai se sentir pouco acolhida, cobrada e retomar a relação ainda mais forte com o abusador porque não encontrou apoio fora da relação.
O término de um relacionamento abusivo é bem diferente do fim de um relacionamento saudável. O término é o maior “não” que o abusador recebeu dessa mulher na vida, pois o mesmo sempre estava acostumado com ela fazendo tudo que ele queria. O abusador vai no ponto fraco da mulher e pode dizer que agora vai fazer terapia, que agora aceita ter filho ou se o sonho dela é se mudar, ele vai dizer que vai se mudar. Ou pode ficar mais agressivo e mais manipulador. Por isso, é recomendado um contato zero com o ex para quem não tem filhos, e um contato mínimo para as que são mães. Somente assim essa mulher conseguirá se proteger e iniciar um processo de fortalecimento para uma nova vida. Mulheres, não deixem de buscar ajuda!