O relacionamento abusivo é todo relacionamento que envolva abuso físico, psicológico, sexual, moral ou financeiro/patrimonial.
Pode acontecer entre casais, relações familiares, no ambiente de trabalho e até entre amigos, mas os dados oficiais mostram que o relacionamento abusivo e a violência doméstica acontecem com maior frequência em relacionamentos heterossexuais, onde as mulheres são maioria entre as vítimas, com maior número de mulheres negras.
Isso se dá devido à nossa sociedade patriarcal, machista e racista na qual inúmeras crenças, condutas e estruturas sociais foram construídas e enraizadas. Também há um número muito elevado de violência destinada a mulheres transsexuais. Hoje abordarei sobre o relacionamento abusivo de casais.
A primeira pesquisadora a identificar o ciclo do relacionamento abusivo foi a psicóloga norte-americana Lenore E. Walker onde considera que os agressores seguem um padrão de comportamento. As conclusões dela foram feitas na década de 1970, depois de entrevistar mais de 1.500 vítimas de violência doméstica.
Ela descreveu o ciclo foi descrito da seguinte forma:
- Construção das tensões: ocorrem o controle do comportamento, o isolamento da mulher, ofensas verbais e humilhações
- Explosão da violência: há agressão física, violência patrimonial, violência moral, violência sexual ou violência psicológica
- Lua de mel: o homem pede perdão, enche a mulher de promessas de mudança, há reconciliação e reconstrução do vínculo
Relacionamentos abusivos começam de maneira semelhante como todos os outros em que o casal se apaixona e cria um forte vínculo. É importante considerar que os relacionamentos abusivos já apresentam alguns sinais preocupantes logo no início, que têm a ver com o controle sobre a pessoa.
Sendo uma intensidade de os relacionamentos se tornarem muito sérios em pouquíssimo tempo. Um estabelecimento entre amor e confiança muito grande. O parceiro diz falas tipo: se você me ama de verdade, você vai fornecer a senha das suas redes sociais, se você me ama vai ficar só comigo.
Começando assim, o processo de isolamento dessa mulher da sua família, de amigos e até do trabalho. A mulher vai se isolando até que não consegue sequer compartilhar as suas angústias, suas dores, e pedir ajuda.
Muitas vezes esse comportamento controlador acaba sendo entendido pela mulher como manifestação de amor. Onde ela diz para as pessoas que ele faz isso porque ele é ciumento e a ama muito. Ela também costuma achar que ela foi responsável pelas brigas quando ocorrem.
Conforme vão se intensificando as brigas, humilhações e ofensas, costuma acontecer uma explosão de violência, que pode ser de vários tipos, como sexual ou física. Depois, vem a fase da lua de mel e suposta calmaria. Dai, é onde muitas mulheres acreditam nessa mudança de comportamento do agressor. Elas perdoam, permanecem naquela relação abusiva e até violenta acreditando que aquilo não é tão grave assim, que ele vai tomar jeito, que ela vai mudar o seu próprio comportamento e, com isso, vai mudar o comportamento do homem. Em muitos casos, é só no momento da violência aguda que a mulher vai procurar ajuda, e já pode ser tarde demais.
Ofeminicídio é possível ser prevenido, porque ele é o fruto de uma violência progressiva. Por isso, é muito importante que as mulheres tenham informações sobre o que caracteriza um relacionamento abusivo.Essa violência não é passional e que o homem chega um dia em casa e enlouquecido e vai atentar contra a vida da sua companheira. É um tipo de violência que vai aumentando.
A raiz da violência de gênero está nas relações de poder entre homens e mulheres. Por isso a dificuldade em identificar relacionamentos abusivos e quebrar o ciclo. Ao longo de séculos, leis, discursos, práticas e costumes reforçaram a dominação masculina e a submissão feminina. E esse desequilíbrio entre os gêneros criou uma porta de entrada para a violência.
Hoje o feminicídio não é mais compreendido como um crime passional, um crime de amor. Mas, sim, uma manifestação de ódio ao feminino, uma manifestação de poder sobre o corpo e a sexualidade das mulheres. Não bastam leis para impedir que inúmeros casos de violência e feminicídio ainda aconteçam no Brasil. Falta uma consciência social sobre o assunto onde é preciso mais informações para que se pare de normalizar que o homem pode mandar na mulher nos diversos aspectos da sua vida e que crises de ciúmes é algo natural!