No dia 2 de novembro é Dia dos Finados e nesta semana vamos falar sobre o luto. Passar por uma situação de luto não é fácil. Cada pessoa lida de determinada forma com esse momento de perda e tristeza. A psicologia pode ajudar, também, nesse tipo de situação, acolhendo o sujeito e fornecendo suporte e estratégias para o enfrentamento e superação do luto.
Com a pandemia nosso sentimento de perda ficou aflorado. Podemos dizer que passamos um ano enlutados. Foi um ano de muitas perdas, onde ninguém poderia imaginar que chegaríamos no fim do ano ainda dessa forma. Perdemos a liberdade. As atividades comum que fizemos foram retiradas. As atividades corriqueiras como ir ao supermercado ou à farmácia, por exemplo, exigiu que ficássemos em total estado de alerta. Perdemos até mesmo a tranquilidade de respirar. Os abraços foram diminuídos. Filhos ficaram sem abraços de pais por serem da área da saúde. Muitos netos ficaram sem ver os avós. Foi um ano difícil com esse distanciamento social. As crianças sofreram também ficarem sem ver os amiguinhos da escola, nem podiam sequer frequentar lugares que gostavam de ir.
Aumentou a ansiedade e depressão até mesmo em crianças. Todo mundo saiu da sua rotina. Até viagens e passeios em família foram cortados. Há ainda quem está o ano inteiro sem ver familiares, inclusive pais e avós com medo de levarem o vírus para eles. Foi um ano que ficamos muitos distantes um do outro.
Os dias passam e temos a sensação de que pouco foi vivido e muito foi perdido. Os prazeres da vida estão nos momentos simples. Não apenas perdas de ocasiões ou liberdade marcam a quarentena. Perdemos trabalhos, saúde, vidas… Muitos perderam familiares com esse vírus. Um vírus maldito onde nem se despedir dos familiares com um abraço puderam. Nem velório pode ser realizado. Ficamos sem dúvida mais emotivos, com emoções a flor da pele.
Quando alguém parte de verdade indo embora da terra, como por exemplo, uma perda devido a uma doença degenerativa, torna o luto um pouco mais fácil, pois a pessoa vai se preparando para esse momento. Já uma morte repentina torna seu entendimento mais complexo, fazendo a pessoa enlutada procurar motivos para a morte. Isso pode acarretar problemas psicológicos como depressão e ansiedade. Uma resposta saudável à morte seria a capacidade de expressar a dor, reconhecendo-a e investindo em novos vínculos. Se esses recursos forem escassos, o luto pode ser complicado, com sintomas físicos e mentais que propiciam a negação e a repressão da dor pela perda. Essa incapacidade de se manifestar pode levar a um sentimento de fragilidade.
As crenças a respeito da perda serão ativadas e processadas pelo entendimento que a pessoa possui em relação à morte, o que pode interferir no comportamento e no emocional, dependendo do estilo de enfrentamento e dos padrões aprendidos anteriormente. As implicações diante da morte podem tornar o indivíduo incapaz de reorganizar sua vida, no contexto social e familiar.
Elizabeth Küber-Ross propôs cinco estágios para a efetivação do luto. O primeiro é a negação e o isolamento, que servem com mecanismo de defesa temporário, é uma recusa a confrontar-se com a situação, ocorrendo em quem é informado de forma abrupta sobre a morte. O segundo é a raiva, onde as pessoas externalizam o sentimento de revolta, o que pode torná-las agressivas. Compreende-se a barganha como o terceiro estágio, que seria a tentativa de negociar ou adiar os temores diante da situação, buscando acordos com figuras segundo suas crenças. O quarto estágio é a depressão, dividida em preparatória e reativa. A depressão reativa ocorre quando há outras perdas relacionadas à perda por morte, já a depressão preparatória é o momento onde a aceitação está mais próxima, onde as pessoas ficam quietas, repensando a vida. O último estágio é a aceitação, que é o momento onde a pessoa está mais serena, quando consegue expressar com mais clareza seus sentimentos, emoções e dificuldades.
A terapia cognitivo-comportamental, em relação ao luto, tem o objetivo de ajudar o paciente a solucionar seus conflitos, facilitando a superação das etapas do luto, identificando os recursos disponíveis e avaliando quais são as principais preocupações do cliente. É recomendável a diminuição de mudanças emocionais, que podem atrapalhar o andamento do tratamento, prejudicando a terapia. É importante que o paciente se sinta acolhido, para que um vínculo empático seja estabelecido. O papel do terapeuta é facilitar a expressão dos sentimentos associados à perda do ente querido.