Bullying e saúde mental

Os períodos da vida que envolvem as fases infantil e adolescente do desenvolvimento são períodos cheios de mudanças no comportamento, na personalidade, no corpo e também no dia-a-dia daqueles que os vivem. Um dos ambientes cheio de novidades normalmente é a escola, sendo um lugar voltado para o aprendizado e o ensino de conteúdos essenciais e conceitos mais abstratos como os de ética, respeito e compaixão.

Nos últimos anos têm aumentado os casos de agressões, físicas e verbais, de alunos para com outros alunos nas escolas. São comportamentos agressivos, constantes e que surgem de diferentes formas.

Bullying são “zuações”, tirações de sarro” e atitudes graves, diferentes de qualquer brincadeira sadia, e que podem acabar tendo consequências sérias na vida do outro que, muitas vezes, resiste calado. Ele afeta a saúde mental e a qualidade de vida das crianças e adolescentes, e precisa ser combatido e conversado por país, professores, alunos.

O conceito bullying refere-se a um conjunto de ações violentas praticadas contra um indivíduo, repetidas vezes, por uma ou mais de uma pessoa, com ou sem motivo aparente, atentando contra a integridade daquele que o sofre (Olweus, 1997).

Para caracterizar e diferenciar de outros tipos de comportamentos agressivos o autor apontou em seus estudos para a necessidade de existência de um desequilíbrio de poder na relação entre os indivíduos envolvidos. Este poderia ser em decorrência da diferença de idade, da força física, do desenvolvimento emocional e também do apoio dos colegas em relação ao agressor (Olweus, 1993, apud Chaves e Souza, 2018).

O bullying geralmente se caracteriza por três fatores principais:

  • comportamentos agressivos com o intuito de provocar danos intencionalmente;
  • tais comportamentos ocorreriam repetidas vezes;
  • trata-se de uma relação interpessoal que apresenta desequilíbrio de poder.

O bullying atualmente pode ser classificado como direto ou indireto. A violência direta diz respeito as agressões físicas e verbais explícitas, facilmente reconhecidas no ambiente em que são desempenhadas. Já a violência de caráter indireto está relacionada à exclusão intencional do grupo e ao espalhar de rumores; sendo esse segundo tipo de comportamento mais encontrado entre as meninas do que entre os meninos como mostram estudos.

Fante (2005) define os cinco papéis principais desempenhados na prática do bullying como: vítima típica; vítima provocadora; vítima agressora; agressor e espectador.

A vítima típica, normalmente, sofreria calada, não reagiria as agressões e também não pediria ajuda aos colegas, pais ou professores na tentativa de alterar a situação.

A vítima provocadora, diferente da típica, provocaria mais reações de agressividade na medida em que provocaria seus agressores de volta, mas sem sucesso. A vítima agressora, diferente das outras duas, tentaria transferir os maus tratos sofridos para outras vítimas consideradas “inferiores”, também por meio do bullying, fazendo da prática um ciclo de violências. Já o agressor, necessariamente exercendo poder sobre sua vítima, seria o praticante do ato. Uma espécie de legitimidade construída por meio do medo e do “respeito” a essa pessoa faria com que ela continuasse a reproduzir tal comportamento. Já o espectador, que passivo observa o bullying sem se manifestar efetivamente, normalmente por medo de acabar se tornando a próxima vítima das agressões físicas ou verbais.

Para além das formas mais comuns do bullying tem o seu formato “online”, que recebe o nome de cyberbullying. A prática seria realizada por meio da internet buscando humilhar e ridicularizar alunos, professores, colegas e até mesmo pessoas desconhecidas. A difusão do ato nesses meios seria extremamente maior.

Por apresentar os tipos de violência física e psicológica, o bullying costuma trazer consigo efeitos de curto e longo prazo para todos os participantes, sejam eles diretos ou indiretos. A curto prazo, pode-se considerar que a vítima apresente insônia, reações psicossomáticas, pensamentos depreciativos e dificuldades na interação com os demais colegas. A longo prazo, a vítima pode apresentar dificuldades em se relacionar com outras pessoas e as agressões que experienciou podem influenciar no surgimento de quadros depressivos e, possivelmente, em episódios mais graves, levar ao suicídio.

Com relação ao agressor, pode haver em curto prazo a consolidação de uma conduta autoritária que implicará em consequências mais adiante, como dificuldades de relacionamento em virtude de um histórico de comportamentos agressivos. Ao longo da vida, o agressor também pode se tornar propenso a cometer atos infracionais, dado o pouco auxílio que recebe e as prováveis atitudes violentas também sofridas por ele durante seu desenvolvimento em decorrência de questões familiares e afins. Quanto aos demais envolvidos, é possível que desenvolvam problemas de relacionamento interpessoal no decorrer da vida, mesmo que não tenham tido participações ativas nas agressões.