Não é a situação em si que exerce influência na forma como as pessoas pensam, sentem e agem, mas sim o significado ou a interpretação que elas dão às suas experiências. Quando a interpretação dos eventos é equivocada, ocorre um fenômeno chamado distorção cognitiva (ou erro de pensamento).
Todas as pessoas cometem erros cognitivos eventualmente. E, ocorrendo essa maneira não há grandes problemas. Durante estados psicopatológicos, como depressão e ansiedade as distorções são generalizadas, exageradas, irracionais e seguem um padrão estável (e disfuncional), gerando sofrimento e problemas nas relações interpessoais.
As distorções cognitivas são maneiras distorcidas que as pessoas interpretam determinadas situações cotidianas, com consequências negativas para a sua vida, causando sofrimento desnecessário. Sintomas como tristeza, ansiedade frequentemente são resultados de distorções cognitivas. As pessoas pensam sobre a realidade de maneira distorcida, o que causa diversos níveis de sofrimento. Muitas vezes, isso acontece sem que as pessoas percebam. Detectar, analisar e resolver estas distorções é um elemento central do processo terapêutico.
Existem diversos tipos de distorções cognitivas, podendo muitas delas manifestar-se na mesma pessoa e, embora possa acontecer em diferentes casos, é mais comum naquelas que sofrem de depressão. A detecção, a análise e a resolução destas situações pode ser feita recorrendo a sessões de terapia cognitivo-comportamental. Entre elas temos:
CATASTROFIZAÇÃO
É uma distorção da realidade em que a pessoa é pessimista e negativa em relação a uma situação que aconteceu ou que vai acontecer, sem ter em consideração outros possíveis desfechos. Exemplos: “Se perder o emprego, nunca mais vou conseguir encontrar outro”, “Errei uma pergunta no exame, vou reprovar”
RACIOCÍNIO EMOCIONAL
Acontece quando a pessoa assume que as suas emoções são um fato, ou seja, considera aquilo que sente como verdade absoluta. Exemplos: “Sinto que os meus colegas falam de mim nas minhas costas”. “Sinto que ela já não gosta de mim”.
POLARIZAÇÃO
Também conhecido por pensamento tudo ou nada, é uma distorção cognitiva em que a pessoa vê as situações em apenas duas categorias exclusivas, interpretando situações ou pessoas em termos absolutos. Exemplos: “Deu tudo errado na reunião que aconteceu hoje”, “Fiz tudo mal”.
ABSTRAÇÃO SELETIVA
Conhecida por visão em túnel são as situações em que apenas um aspecto de uma determinada situação é realçada, principalmente o negativo, ignorando os aspectos positivos. Exemplos: “Ninguém gosta de mim”, ” O dia correu todo mal”.
LEITURA DE PENSAMENTO
Consiste em adivinhar e acreditar, sem evidências, no que as outras pessoas estão pensando, descartando outras hipóteses. Exemplos: “Ele não está prestando atenção no que estou a dizer, é porque não está interessado.”
ROTULAÇÃO
Consiste em rotular uma pessoa e defini-la por uma determinada situação, isolada. Exemplos: “Ela é uma pessoa má”, “Aquela pessoa não me ajudou, é egoísta”.
DESQUALIFICAÇÃO DO POSITIVO
Há desprezo e falta de reconhecimento pelos acontecimentos ou pelas coisas boas que foram feitas e/ou alcançadas. Exemplos: “Foi sorte”, “Não fiz nada, poderia ter acontecido com qualquer pessoa”.
IMPERATIVOS
Consiste em pensar nas situações como deveriam ter sido, em vez de se concentrar em como as coisas são na realidade. Exemplos: “Eu deveria ter ficado em casa com meu marido”, “Eu não devia ter vindo na festa”.
Cada transtorno psiquiátrico possui uma arquitetura cognitiva particular mais ou menos estável, é a partir disso que as experiências são captadas e as respostas emocionais e comportamentais são emitidas. Assim, o processo de tratamento precisa contemplar estas especificidades. A seguir o perfil cognitivo dos principais quadros psiquiátricos:
Depressão: Visão negativa dos outros, de si e do futuro;
Episódio maníaco: Visão inflada de si, dos outros e do futuro;
Comportamento suicida: Desesperança e conceito auto desqualificador;
Ansiedade generalizada: Medo de perigos físicos ou psicológicos;
Fobia específica: Medo de perigos específicos e evitáveis;
Estado paranoide: Visão dos outros como manipuladores e mal intencionados;
Pânico: Medo de um perigo físico ou mental iminente;
Transtorno conversivo: Ideia de anormalidade motora ou sensória;
Hipocondria: Preocupação com doença insidiosa;
Transtorno obsessivo compulsivo: Pensamentos continuados sobre segurança atos repetitivos para precaver-se de ameaças.
Para resolver estes tipos de distorções cognitivas é recomendado fazer terapia cognitivo-comportamental, pois assim é possível promover alteração no pensamento, de forma que o pensamento distorcido mude diante da realidade, melhorando a qualidade de vida da pessoa. Durante o processo terapêutico o paciente é auxiliado na identificação dos pensamentos automáticos, na categorização conforme a distorção cognitiva que representam e na contestação, buscando evidências que comprovem os erros cognitivos. Este mapeamento cognitivo é fundamental para que as distorções sejam substituídas por pensamentos adaptativos e realistas.