Leio a primeira manchete do jornal por meio do meu celular: “Preço da gasolina bate mais um recorde e chega a custar até R$ 10,00 em alguns estados”.
Lembrei do meu avô reclamando há alguns anos, quando o preço do produto havia ultrapassado R$ 4,00 em Belo Horizonte e R$3,80 em São Paulo. Hoje, coitado, vovô não ficaria nada contente com isso.
Ontem, indignados, o pessoal do escritório deu o que falar não só em relação aos combustíveis, mas também sobre os valores nas prateleiras dos supermercados. O assunto são não rendeu mais do que a vitória do Palmeiras sobre o São Paulo em 4×0, na final do Paulistão. Teve gente que até chorou enquanto defendia o time do coração. Eu, como sempre, me coloquei de lado e me esquivei ao máximo de qualquer assunto que me fizesse pensar em problema, mas agora, após ler essa notícia, ah… Agora eu não posso me calar. Onde já se viu? R$ 10,00 o litro?
O telefone toca. É a secretária da Dra. Thaila, que cuida do Laila: “posso confirmar banho e tosa para às 13h00?” Tenho certeza de que a danadinha chegará cheirosinha aqui em casa hoje. Lembro de trocar os panos da casinha. Troco o tapete, confiro se há água na vasilha e ração no potinho. Falo para a Rosinha que hoje não almoçarei em casa: “não precisa se preocupar com o almoço”. Ligo para o Jaiminho, envio foto do canteiro da varanda; precisa de um trato urgente, pois a grama já atingiu o caminho da garagem e as roseiras há muito tempo não veem uma boa poda. Ele combinou que cuidaria de tudo antes mesmo de eu retornar no final da tarde.
Cheguei 15 minutos depois do combinado com a doutora. Acostumada, nem se importou. Saí de lá. Banco, farmácia, escritório. Trabalho, trabalho e trabalho. 17h45min. Computador desligado, retomo o fôlego, desço ao estacionamento e pergunto ao porteiro: “meu celular ficou por aí? Sabe como é. Hoje não tive tempo nem de respirar”. Estava dentro do carro. Destravei a tela, 18 ligações perdidas. “Meu Deus, a Laila!”
No caminho, pensei na desculpa que eu daria à Thaila. Atrasos sempre ocorrem, mas na chegada. Nunca para buscar a coitada da cachorrinha. 18h30min, o carro dela ainda estava estacionado na frente do pet shop. “Mil desculpas! Sabe como é, né, a correria uma hora mata a gente!”. Ela sorriu amargamente. Desculpas aceitas (até parece que ela foi sincera), entramos no carro, Laila e eu, e fomos embora, mesmo com o painel do carro acusando falta de combustível. Jaiminho já tinha ido, mas deixou um recado: “o senhor esqueceu de deixar o dinheiro na escrivaninha. Passo amanhã para pegar.”
Era para abastecer o carro hoje, porque amanhã, antes de ir ao serviço, em horário de pico? Esquece. Não há um posto vazio na cidade às 6 da manhã. Mas e a gasolina a R$10,00? Que absurdo!
Já são 21 horas. O telefone toca. É Paulo, meu chefe: “é a quarta vez em menos de um mês que você deixa a luz e o computador ligados! Energia barata hoje em dia, né?”
Peço desculpas. Ele ri e avisa: “amanhã é dia de fechar o faturamento. Chegue cedo!”
Ligo a tevê no noticiário. Primeira manchete: “Gasolina bate recorde e chega a R$10,00”.
Que saco! Não se fala em outra coisa agora? Penso.
Tomo o controle, desligo a televisão.
Amanhã o dia será longo.
Professor Franco de Paula é graduado em Letras pela UNESP de S. J. Rio Preto. Além disso, possui formação em Pedagogia e pós-graduação em Gestão Escolar