Os pesquisadores brasileiros viram a incidência de um tipo de sequela específica da covid-19: os transtornos psiquiátricos. Identificaram que pessoas infectadas pelo coronavírus SARS-CoV-2, de forma moderada ou grave, registravam maior incidência de depressão, transtorno de ansiedade generalizada e transtorno de estresse pós-traumático.
Publicado na revista científica General Hospital Psychiatry, o estudo foi desenvolvido por cientistas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). A pesquisa também contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Sendo encontrados uma alta prevalência de diagnóstico psiquiátrico, bem como problemas cognitivos de 6 a 9 meses após a covid-19″. Não houve relação entre a gravidade da doença no início do estudo e o grau de comprometimento mental e cognitivo.
No estudo brasileiro, foram acompanhados pelos pesquisadores 425 voluntários, com mais de 18 anos. Todos os participantes foram internados no Hospital das Clínicas da USP, na cidade de São Paulo, por pelo menos 24 horas, entre março e setembro de 2020. De seis a noves meses após a internação, os voluntários passaram por uma entrevista psiquiátrica estruturada, testes psicométricos e uma bateria de exames cognitivos,
Os pesquisadores descreveram as seguintes taxas de incidência de transtornos psiquiátricos no grupo de voluntários analisado: depressão em 8% dos voluntários; Transtorno de ansiedade generalizada em 15,5%; Transtorno de estresse pós-traumático: 13,6%.
Conforme os pesquisadores os comprometimentos psiquiátricos e cognitivos observados a longo prazo após covid-19 moderada ou grave podem ser vistos como uma expressão dos efeitos do SARS-CoV-2 na homeostase [equilíbrio] cerebral ou uma representação de manifestações psiquiátricas inespecíficas secundárias à diminuição do estado geral de saúde.
Nesse estudo realizado com 425 pacientes que se recuperaram das formas moderada e grave da Covid-19, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) observaram uma alta prevalência de déficits cognitivos e transtornos psiquiátricos. Essas avaliações foram conduzidas no Hospital das Clínicas entre seis e nove meses após a alta hospitalar.
Mais da metade (51,1%) dos participantes relatou ter percebido declínio da memória após a infecção e outros 13,6% desenvolvera transtorno de estresse pós traumático. O transtorno de ansiedade generalizada foi diagnosticado em 15,5% dos voluntários, sendo que em 8,14% deles o problema surgiu após a doença. Já o diagnóstico de depressão foi estabelecido para 8% dos pacientes – em 2,5% deles somente após a internação.
O transtorno do estresse pós-traumático (TEPT) é um distúrbio da ansiedade caracterizado por um conjunto de sinais e sintomas físicos, psíquicos e emocionais em decorrência de o portador ter sido vítima ou testemunha de atos violentos ou de situações traumáticas que, em geral, representaram ameaça à sua vida ou à vida de terceiros. Quando se recorda do fato, ele revive o episódio, como se estivesse ocorrendo naquele momento e com a mesma sensação de dor e sofrimento que o agente estressor provocou. Essa recordação, conhecida como revivescência, desencadeia alterações neurofisiológicas e mentais.
O transtorno de ansiedade generalizada (TAG) é um distúrbio caracterizado pela “preocupação excessiva ou expectativa apreensiva”, persistente e de difícil controle, que perdura por seis meses no mínimo. vem acompanhado por três ou mais dos seguintes sintomas: inquietação, fadiga, irritabilidade, dificuldade de concentração, tensão muscular e perturbação do sono. É importante registrar também que, nesses casos, o nível de ansiedade é desproporcional aos acontecimentos geradores do transtorno, causa muito sofrimento e interfere na qualidade de vida e no desempenho familiar, social e profissional dos pacientes.
Rodolfo Mariano (médico residente do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP e primeiro autor da pesquisa) diz que nenhuma das alterações cognitivas ou psiquiátricas observadas nesses pacientes se correlaciona com a gravidade do quadro. Não sendo visto associação com a conduta clínica adotada no período de hospitalização ou com fatores socioeconômicos, como perda de familiares ou prejuízos financeiros durante a pandemia de Covid-19. O artigo sobre a pesquisa foi publicado na revista científica General Hospital Psychiatry.