JANEIRO ROXO: Dermatologista orienta sobre a hanseníase e destaca trabalho desenvolvido em Barretos

Estamos no “Janeiro Roxo”, mês de conscientização e combate à hanseníase. E para explicar melhor como se dá essa doença, os principais sintomas e a importância da prevenção, a dermatologista Cristiane Botelho Miranda Cárcano participa dessa entrevista.
A médica é membro titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e atua no Ambulatório destinado a atender pacientes com suspeita ou diagnosticados com hanseníase em Barretos. O ambulatório fica na Rua Jerônimo Alves Pereira, 507, Jardim Universitário e atende de segunda a sexta, das 7h às 17h. O telefone é (17) 3612-2490.

O que é a hanseníase?

A hanseníase é uma doença infecciosa causada por uma bactéria. É considerada um problema de saúde pública em nosso país. Temos cerca de 30 mil casos diagnosticados por ano no Brasil, o que coloca o país em segundo com o maior número de casos da doença no mundo.

Como saber se eu posso estar com hanseníase?

A hanseníase é uma doença que pode se apresentar de forma muito variada e que acomete, principalmente a pele e os nervos, alterando a sensibilidade das áreas afetadas ao frio, ao calor, à dor e ao toque. Nesta doença pode acontecer uma diminuição ou perda da sensibilidade de uma ou mais regiões da pele, o que pode levar o paciente a perceber com “áreas dormentes da pele”.

Por comprometer os nervos, esta doença pode gerar incapacidades e deformidades nas mãos e nos pés, alterações nos olhos (como ressecamento e vermelhidão, por exemplo), além de ferimentos que não cicatrizam.

Por isso é importante o diagnóstico precoce?

Sim. O diagnóstico precoce é fundamental para evitarmos incapacidades físicas e sequelas, além de evitar a transmissão da doença para outras pessoas.

Como acontece a transmissão dessa doença?

A transmissão da hanseníase ocorre, principalmente através do contato com as gotículas de saliva e secreções do nariz de pessoas doentes. Qualquer pessoa pode adquirir a doença: homens, mulheres e crianças. As pessoas mais susceptíveis a adquirir a doença são as que estão convivendo muito próximo ou possuem contato prolongado com os doentes com hanseníase.

E quais os principais sintomas?

Os principais sintomas da hanseníase são: manchas esbranquiçadas ou avermelhadas, principalmente se estiverem associadas com dormência, ou seja, com diminuição ou perda da sensibilidade à dor, temperatura e ao toque; presença de formigamentos, dormências, câimbras e fraqueza em mãos e/ou nos pés.

Existem formas que podem evoluir com caroços no corpo, inchaço nas orelhas, nas mãos e nos pés. Dor no trajeto de vários nervos periféricos, principalmente os localizados nos cotovelos, pulsos, pernas e pés também podem ocorrer.

Como é o tratamento?

O tratamento específico é realizado com um conjunto de antibióticos, e uma vez que o doente inicie o tratamento, ele não transmite a doença. A hanseníase não é transmitida por um aperto de mão e nem pelo abraço. As pessoas que estão em tratamento ou que já fizeram o tratamento também não transmitem a doença. Vamos combater o estigma e o preconceito contra esta doença com conhecimento e informação. A hanseníase tem cura!

Como funciona o ambulatório de Hanseníase em Barretos?

Em Barretos temos a oportunidade de ter um ambulatório destinado a fornecer assistência aos pacientes com suspeita, diagnosticados ou que já tiveram hanseníase. Este ambulatório fica situado na Unidade de Doenças Infectocontagiosas. Nossa equipe é composta por dermatologista, fisioterapeuta, enfermeira, técnicos de enfermagem, assistente social e psicólogo, qualificados para atender os pacientes com hanseníase e seus familiares. Fornecemos assistência para avaliação de casos suspeitos, orientamos e acompanhamos o tratamento da hanseníase após diagnóstico, incentivamos a importância da aderência do paciente ao tratamento, avaliamos os contatos do paciente (familiares próximos) o que é muito importante para detectar casos iniciais ou precoces de hanseníase, orientamos e atuamos na prevenção de incapacidades físicas e damos apoio psicológico ao paciente, quando necessário.

Como o barretense tem acesso ao ambulatório?

Atualmente, o ambulatório atende pacientes procedentes de Barretos, Colina, Guaíra, Jaborandi e Colômbia, conforme pactuação entre as secretarias de saúde destes municípios. É um ambulatório referenciado, ou seja, o paciente é encaminhado para a avaliação especializada pela Atenção primária (Unidades Básicas de Saúde). No ambulatório de hanseníase, o paciente passa pela avaliação médica com a realização dos testes de sensibilidade. Temos a possibilidade de realizar biópsias de pele e coleta de material de alguns pontos da pele para a realização de baciloscopia, ou seja, pesquisa da bactéria da hanseníase.

Quantos registros positivos de hanseníase foram registrados na cidade de Barretos?

Nos últimos 20 anos, tivemos 280 casos de hanseníase só na cidade de Barretos. Além do paciente, todos os familiares e pessoas que possuem uma convivência próxima com o doente de hanseníase também são avaliados no ambulatório. Após confirmar o diagnóstico de hanseníase, o paciente inicia o seu tratamento e precisa ser avaliado no mínimo 1 vez por mês pelo dermatologista, e caso seja necessário, por outros profissionais de saúde, como psicólogo e fisioterapeuta. Mesmo após terminar o tratamento da hanseníase, o paciente e seus familiares permanecem em seguimento no ambulatório por pelo menos 5 anos. Todo o tratamento da hanseníase é feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e de forma gratuita.