A obra “A criatura sou eu ontem”, filme da mineira Elizabete Martins Campos, retrata questões em torno da invisibilidade do idoso no Brasil. A artista brasileira escancara um drama que nós já conhecemos no nosso país: o descaso populacional frente às causas das pessoas idosas, que vai desde o preconceito nas ruas até a privação de direitos já conquistados por essa parcela da população, como a inserção na educação tanto básica quanto superior. De fato, desconhecemos, muitas vezes, os benefícios da inclusão do indivíduo longevo, mas a ciência contemporânea já provou os benefícios mentais àqueles que continuam estudando por toda a vida. Enfim, compreendo que a nação opta pela privação de direitos desses cidadãos, justificando que novas vagas devem ser preenchidas somente por jovens, fato que reforça discriminações.
Em primeira arguição, quero salientar que a saúde mental do idoso é preservada quando estimulada por ferramentas educacionais, e todos ganham com isso: o próprio ser beneficiado e a sociedade. No que tange ao primeiro, a saúde mental de quem tem acesso aos estudos é comprovadamente alimentada positivamente. A exemplo disso, alunos e professores da USP aproximaram idosos da Universidade, e a fonoaudióloga e supervisora do projeto, Tatiane Martins, garantiu, em uma matéria publicada pelo Jornal da USP, que “[…] com as atividades universitárias, estamos estimulando a memória, que é fazer com que as conexões entre os neurônios ou células nervosas do cérebro sejam ativadas e fortalecidas”. Nessa ótica, a especialista reforça, para todos nós, a importância do investimento nas atividades intelectuais voltadas para pessoas com faixa etária igual ou acima de 60 anos, uma vez que as atividades cognitivas do cidadão são preservadas. Em relação ao último grupo, reforço que o convívio com essas pessoas favorece aprendizados e trocas de experiência de quem já viveu suficientemente para ensinar novas perspectivas de mundo aos mais jovens.
Deixo evidente, além disso, a precariedade da educação brasileira, inclusive na oferta de vagas educacionais básicas e superiores, entretanto isso não deveria ser justificativa para privar o brasileiro idoso de qualquer nível de ensino em detrimento da oferta a jovens. Ademais, é importante destacar que nunca ouve, realmente, um esforço estatal que garantisse um grande contingente de senhores nos meios universitários. Um levantamento recente da FGV constatou que os idosos são 30% dos analfabetos e têm 3,3 anos de estudo completos a menos que a média nacional. Esses infelizes dados comprovam o descaso social sofrido por cidadãos os quais possuem os mesmos direitos que os demais indivíduos, embora os mais novos usufruam de privilégios muitas vezes. Enfim, o Estado, ainda que negue direitos, evitará gastos excessivos com tratamentos de doenças os quais deverão ser, num futuro breve, oferecidos pelo SUS às pessoas anciãs, quando estas adoecerem mentalmente, vítimas de baixo estímulo intelectual promovido pela educação em seus vários aspectos.
Em suma, reforço a necessidade da garantia da educação aos seniores como forma de respeito à Constituição e de garantia de dignidade a eles. Primeiramente, reafirmo que, na prática, infelizmente não ocorre a inserção do idoso na educação como manda a lei, mas os benefícios são provados cientificamente. Outrossim, estimular o intelecto dessa parcela societária é garantir qualidade de vida e saúde a ela. Por fim, só há benefícios sociais quando os direitos da pessoa idosa são garantidos, e a invisibilidade deve ser apenas um fenômeno para personificar a criatura do ontem, e não o ser social de hoje, muito menos do futuro.
Professor Franco de Paula é graduado em Letras pela UNESP de S. J. Rio Preto. Além disso, possui formação em Pedagogia e pós-graduação em Gestão Escolar