“A vida humana oscila como um pêndulo para aqui para acolá, entre a dor e o tédio, os quais em realidade são os seus componentes básicos” (Schopenhauer)
Nós vivemos na ânsia de sempre buscar aquilo que não temos e seguimos acreditando que quando conseguirmos seremos realizados e felizes. Pensamos que seremos realmente completos e plenos. E aí quando finalmente conseguimos aquele carro, celular ou até mesmo o amor dos sonhos e atingimos a nossa meta, o que nos acontece? O tédio.
Agora que temos o que planejamos e sonhamos, não desejamos mais, já passamos a desejar outras coisas. Segundo Schopenhauer “a vida se materializa em um pêndulo”, onde temos de um lado o sofrimento e do outro o tédio, ou seja, sofrimento é o algo que ainda não temos e o tédio é quando conseguirmos aquilo que buscamos.
Nos dias de hoje, se você deseja algo, em dois cliques isso chega até você. Temos como exemplo Netflix, Ifood, Tinder, com um vasto cardápio disponível a nós. Tudo muito rápido e se não der certo, não gostarmos, por exemplo, podemos pular para outra, e outra, assim sucessivamente. Em todas essas plataformas que citei existem milhares de opções que até nos perdemos, ficamos indecisos e ainda nos sentimos vazios.
Estamos a todo tempo a gritar desesperadamente para sermos notados. Nos exibimos a todo momento em redes sociais, na academia, restaurantes e demais atividades do cotidiano, que tornaram meios de mostrar que estamos vivos.
Buscamos incessantemente por like’s, mais seguidores, mais visualizações e mais ainda por aprovação de um alguém que, por vezes, nem nos conhece. Fazemos com que todos nos vejam e nos aprovem, porque eu mesmo não me aprovo e preciso da opinião alheia para me sentir vivo.
A frase do filósofo Rene Descartes,“penso, logo existo”, foi retificada para,“posto, logo existo”. Basta abrir o Instagram que verá diversas postagens exalando felicidade e perfeição, com pessoas belas e edificadas pregando sanidade mental invejável e vida bela. É uma enxurrada de bons dias, com lindas palavras, que muitas vezes em cada letra digitada tem uma ‘gota de sangue’ dos seus dedos, porque aquilo não é a realidade.
E, assim, levamos a vida sempre em busca daquilo que nos falta, porque o desejo é querer aquilo que não temos. Se estamos em busca da felicidade, estamos em busca de algo que não está presente, logo, a felicidade nos falta, está ausente, e isso é exatamente o que nos mantêm presos nessa incessante busca, afinal, como eu seria feliz se eu fosse feliz, mundo esse traduzido como modernidade líquida, termo utilizado pelo nosso querido Zygmunt Bauman, sociólogo, polonês, que fala dos nossos tempos de hoje, essa nossa fluidez e liquidez em não ter nada sólido. Em suma, não existe certo e errado, apenas evoluímos.
Referências:
ZAHAR, Jorge; DE OXFORD, Inglaterra; ZAHAR, Jorge. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
Acessado em: https://www.youtube.com/watch?v=xjjmVF8W870. O mundo líquido e a felicidade por Schopenhauer, em 2 de dez. De 2020, às 20:33.