Quem já passou das cinco ou seis décadas de vida, geralmente, tem mania de dizer que as coisas não são bem feitas como antigamente. Se levarmos essa “meia verdade” para o Oscar 2022, e para quem tenha visto essa celebração dezenas e dezenas de vezes e, como eu, seja amante do cinema, a frase que viria a cabeça poderia ser: “Não se faz mais OSCAR como antigamente”.
O fato é tão inusitado, que mesmo que fosse armado, como os teóricos das conspirações acreditam, mesmo assim, o tapa de Wil Smith não teria atingido apenas Chris Rock, mas atingiu também o glamour e toda tradição da celebração e culto à “sétima arte”, como dizíamos no passado.
Antes que alguém possa entender que estou julgando a atitude do famoso astro norte-americano, saibam que não! Quem sou eu para julgar alguém ou mais que isso, quem de nós pode atirar pedras em alguém? Pelo contrário, talvez eu ou você fizéssemos o mesmo que Will Smith. Quantas vezes, da mesma forma que o ator, o nosso emocional falou mais alto e no dia seguinte a razão cobrou nossas atitudes?
Entendo como ser humano a reação daquele que foi premiado como melhor ator de 2022 e ao mesmo tempo vejo naquela cena um “tapa” na cara de toda tradição do Oscar. A magia que celebra o cinema não merecia refletir no palco o tempo cada dia mais doente em que vivemos, em que se faz piada de mau gosto de todo tipo, sem pensar na doença e na dor do próximo e que termina em reações violentas como assistimos no “filme real” do dia a dia.
Por outro lado, Smith perdeu a oportunidade de dar um tapa com “luva de pelica” discursando e falando para todo mundo sobre sua indignação em relação à piada de Chris Rock.
Nessa briga todos perderam, mas a maior derrota quem sofreu foi o Oscar 2022! Que pena! Enquanto perdemos tempo falando de tapa e piada de mau gosto com a mulher do próximo poderíamos falar das coisas lindas vividas naquela noite de magia. Poderíamos falar do encanto do melhor filme – No Ritmo do Coração – e de Troy Kotsur, primeiro ator surdo a ganhar a estatueta. Poderíamos estar falando da neozelandesa Jane Campion, melhor diretora, cuja sutileza fez de Ataque dos Cães, um filme além de especial. Poderíamos estar falando do talento da melhor atriz, Jessica Chastain, e de cenas, roteiros e da elegância das estrelas que brilharam no fantástico mundo do cinema, mas estamos falando da violência e da estupidez da nossa vida real.
Como diria algum saudosista, já não se faz Oscar como antigamente, mas por outro ponto de vista, poderíamos dizer que a ação impulsiva de Wil Smith foi um tapa na celebração histórica que é o Oscar. Um tapa que tirou muito do brilho da sua escolha com melhor ator.