Em meio ao luto, celebração à vida

A morte nunca será um tema fácil de ser abordado, porque não a entendemos, não a aceitamos, não a queremos. Falar adeus para alguém e não ter mais por perto o sorriso, a alegria, a voz, o cheiro, o abraço dessa pessoa é algo que ninguém quer nem pensar. Contudo, a realidade é uma só: a vida é um sopro, é efêmera, é passageira de metrô: se você piscar, perde uma estação.

Analisando os números de mortos pelo coronavírus, por câncer, acidente de trânsito ou qualquer outro motivo, é estarrecedor e, de um jeito ou de outro, nos afeta, nos abala. Esta pandemia, em particular, se não levou um parente nosso ou um amigo, nos desconcertou de outra forma. O próprio distanciamento social levou muitos ao psicólogo; não que isso seja errado, mas que bagunçou por dentro nossa mente e coração, isso bagunçou. Então, vale uma reflexão sobre a vida. E o conselho aqui, humildemente dado é: viva!

Na semana em que a inesquecível escritora Clarice Lispector comemoraria 100 anos e o ator Eduardo Galvão morreu vítima de Covid aos 58 anos (uma criança) – e aqui eu o cito porque tudo o que li em todos os lugares foi que ele era uma pessoa sorridente, cavalheiro e do bem, ou seja, queria viver, nós temos de comemorar o fato de estarmos vivos. A gente nunca sabe quando será o último espetáculo, o último artigo de jornal, a última refeição, a última novela, o último post nas redes sociais.

E, a poucos dias do Natal e de um novo ano (que esperamos ser imensamente melhor que 2020), faz-se necessário deixar certos cafés pequenos de lado. As intrigas, rusgas, mesquinharias, animosidades devem ser mais deixadas de lado que uva passa na farofa (me perdoem, mas eu não gosto…). O filho deve perdoar o pai; o marido deve se declarar a esposa, a esposa deve fazer surpresa para o marido, os amigos devem fazer chamadas de vídeo via celular ou computador, o mundo deve se unir.

Não é fácil, em algumas situações. Cada ser humano carrega em si uma dor, um peso, uma cruz difícil de soltar. Mas, o que é pior? Dizer “perdão” ou “adeus”?

Com dinheiro ou não, com o emprego ou carro dos sonhos ou não, devemos agradecer cada respirada. Devemos comemorar o Natal em quem sobrevivemos a muitos obstáculos, em todos os setores do nosso cotidiano.

O metrô não espera ninguém. Chegou na estação, ele abre a porta por segundos e parte. Quem desceu, desceu. Quem entrou, entrou. Ele vai embora do mesmo jeito. Não perdoa atrasos. Assim é a vida de quem vive em cidade grande. Assim é a vida de qualquer pessoa. Não a deixe partir sem ter feito bela viagem.

Desde já, boas festas, com muita luz, amor e paz!