É que a viola fala alto no meu peito humano

Que dia foi esse(?) tão pesaroso para a cultura, para a música e para a arte! As imagens de Caetano Veloso e Gilberto Gil chorando pela morte de Gal Costa dizem mais que todas as palavras que eu pudesse escrever quanto às dores causadas pela sequência das horas do dia 9 de novembro de 2022. Perdemos Gal Costa e Rolando Boldrin.

Mais uma vez me veio à cabeça nesses “dias cinzentos” que vivemos e no descaso que se faz nessas terras tupiniquins com a cultura, uma frase que “atribuem” ao poeta Ferreira Gullar: “A arte existe porque a vida não basta.”

Gal Costa, um dos maiores nomes da história da nossa MPB, deixou o “eco” de uma emissão de voz que por só já era música, uma “força da natureza”, como diz Caetano Veloso, que também afirma que ao ouvir Gal pela primeira vez teve a sensação de estar diante da maior cantora do país. O nome dela era Gal, mulher adiante do seu tempo, mulher desbravadora em muitos significados, que era mesmo e naturalmente assim…

E o que dizer sobre Rolando Boldrin? Ator, músico, apresentador, multi artista, um homem simples que nos dava orgulho de ser brasileiro, um homem que falava das coisas do sertão, um contador de “causos”, como humildemente ele se definia, e como jamais vi igual. Um senhor de fato Brasil! Um homem que dedicou sua vida a propagar as “raízes” da cultura brasileira tão desprezada pelos que deveriam nos governar e também esquecida e menosprezada pela maioria do povo brasileiro.

Inesquecível Gal Costa. Inesquecível Rolando Boldrin. Podem ter partido para “o outro lado da vida” ou dos “mistérios” que desconhecemos, mas deixaram em nós o legado de suas almas de artistas que será assim como as mais belas canções que ainda haveremos de ouvir…

Que toda a tristeza dessas perdas irreparáveis para a cultura, a arte e a música brasileira também seja reflexão quanto à importância da arte que existe, porque a vida não basta, e quanto é fundamental estarmos como sociedade “mais abertos” para as coisas mais sensíveis da vida, que na realidade é o maior sentido de estarmos como almas por aqui…

Então, é preciso que a arte nos aponte uma saída mesmo quando a tristeza é imensa. E que Gal Costa seja sempre uma força que nos leve a cantar! E que a memória de Rolando Boldrin “vibre” em nós  toda vez que a viola falar alto em nosso peito humano… E, assim, haveremos com a ajuda de Deus e da arte de seguir sempre em frente tocando essa vida marvada.