Nos dias atuais, a sociedade tenta pregar que ser feliz é o mais correto, como se fosse uma via de regra, sendo que a tristeza é um sentimento comum para nós seres humanos. Como exemplo, a tristeza é super cabível a um término de relacionamento, na perda de um ente querido ou por uma discussão qualquer. No entanto, o grande erro de muitos especialistas, no desespero de ver aquele paciente triste, é querer “anestesiar” essa dor imediatamente com medicamentos, sendo que a dor para ser superada deve ser sentida, entendida e elaborada.
E o tempo de superação é único e exclusivo daquela pessoa, tudo é subjetivo e singular, não existe a possibilidade de um profissional dizer para seu paciente que “em seis sessões estará livre dessa terrível depressão”. O tempo que cada um leva para o entendimento da dor é atípico e vai de acordo como a pessoa lida com a vida, desde a educação da infância até o agora.
A depressão, como o próprio nome diz, (termo esse que vem da geografia), a pessoa fica literalmente para “baixo”. A depressão pode sim ser desencadeada por perdas, como a tristeza também, porém a depressão pode surgir por “ganhos”, como por exemplo, um filho que acaba de nascer, um relacionamento que você acaba de iniciar, isso pode ocasionar um luto da perda de “liberdade”, entre outros diversos motivos. Existem tipos de depressão que só a terapia basta, mas tem pessoas que precisam de auxílios químicos para que a melhora seja mais eficaz. E está tudo bem se precisar desses auxílios, quem analisará essa questão de psicotrópicos será um psiquiatra e não você.
Mas, podemos contar com um aliado, o amor, embora não previna contra a depressão, ele tranquiliza a mente e a protege de si mesma. Medicamentos e psicoterapia podem renovar essa proteção, tornando mais fácil amar e ser amado, e é por isso que funcionam. Quando estão bem, certas pessoas amam a si mesmas, algumas amam a outros, há quem ame o trabalho e quem ame Deus, qualquer uma dessas paixões pode oferecer o sentido vital de propósito, que é o oposto da depressão. O amor nos abandona de tempos em tempos e nós abandonamos o amor. Na depressão, a falta de significado de cada empreendimento, de cada emoção e a falta de sentido da própria vida, se tornam evidentes. O único sentimento que resta nesse estado despido de amor é a insignificância.
Na depressão, você não pensa que pôs um véu cinzento e está vendo o mundo através da névoa de um estado de espírito ruim. Você pensa que o véu foi retirado, o véu da felicidade, e que agora está realmente enxergando. Você tenta se agarrar à verdade e destrinchá-la, e acredita que a verdade é a única coisa fixa, mas ela é viva e corre de cá para lá. Você pode exorcizar os demônios dos esquizofrênicos que percebem que há algo estranho dentro deles. No entanto, é muito mais difícil com gente deprimida, porque acredita estar vendo a verdade. Mas, a verdade está nos enganando. Com toda essa evolução do nosso planeta e com as incertezas que existem no mundo contemporâneo, tentamos incessantemente a busca do que nos torna felizes, mas será que isso que tanto ansiamos é a felicidade mesmo?
Ao tentar a vida perfeita falhamos, porque acreditamos que sermos o que o mundo nos mostra é correto, e o melhor para nós, mas não sabemos nem o que nos deixa felizes, porque o quê eu busco hoje, amanhã já não busco mais, e ficamos nesse ciclo sem fim, tentando sempre encontrar o que eu nem sei e o que eu quero. E, claro, com tanta frustração de não conseguirmos atingir o que a mídia nos impõe, adoecemos, ficamos depressivos e ansiosos. Mas, então, qual é o segredo? Segredo não tem, mas tornar-se aquilo que és, é um caminho fidedigno para a sua realidade e perceber que todos nós temos limitações, buscar sempre a sabedoria e ajuda, mas com cautela, porque a sua “verdade” pode estar te enganando.
Referência: SOLOMON, Andrew O Demônio do meio-dia: Uma anatomia da depressão. Companhia das letras. 2000. p.577