No último ano vivenciamos uma paralização das escolas jamais vista anteriormente, iniciando em março de 2020 no Estado de São Paulo e que permanece, em algumas cidades menores, até hoje. É fato que essa paralização, mesmo quando o município envia atividades remotas impressas aos alunos, gerou um baque na aprendizagem desses alunos. As pesquisas demonstram que demoraremos, no mínimo, quatro anos para recuperar o ensino.
Para um país cuja educação nunca foi prioritária, essa perda é significativa. Não podemos nos deixar enganar, contudo, que exista outro culpado dessa paralização, além do próprio presidente da República. Em determinadas camadas das sociedades, especialmente entre os responsáveis preocupados com suas crianças e adolescentes, existe uma tendência em culpabilizar o professor e/ou os profissionais da educação pelo tempo sem escola presencial. É compreensível que esses familiares, responsáveis e afins estivessem atentos a questão escolar, pois muitos, não podemos negar, tinham na escola uma forma de alimentação extra dessas crianças. Obviamente, outros tantos estavam também preocupados com a defasagem educacional.
A questão que pouco se coloca nesse período, principalmente quando se inicia essa discussão, é a do professor. Enquanto professora de escola púbica, posso garantir que nosso trabalho nessa pandemia dobrou. A minha profissão, na verdade, é reconhecidamente uma das maiores – quiçá a maior – com índice de Burnout e depressão no Brasil. Nossa constante preocupação com a educação, nossos esforços, nosso salário pífio, é sempre pouco colocado nas mídias tradicionais. Contudo, quando nós estamos na luta, pedindo por melhores condições, afirmando que o retorno presencial é perigoso, pedindo a vacinação dos profissionais – que ocorreu depois de muito esforço –, aparecemos como preguiçosos e é jogada nas nossas costas a culpa da decadência educacional no país.
Nesses momentos, quando observamos os dedos em riste, é sempre bom recordar o clichê de que a corda arrebenta para o lado mais fraco. E no sistema educacional, o último patamar, aquele que lida diretamente com as crianças e adolescentes, somos nós, professores. Em pleno lockdown, que na verdade foi pouco policiado, a prefeitura de Barretos decidiu por antecipar as férias dos professores para que os alunos não perdessem aulas. Oras, desde o início do ano estamos em ensino híbrido e uma parcela grande dos alunos estavam se adaptando ao ensino remoto. A escolha de antecipar essas férias, obrigando os professores a perder uma semana em lockdown, sem poder descansar de verdade, apenas fere o psicológico frágil de quem já o tem. Enquanto acreditarmos que professor é herói, e não um trabalhador, falharemos na nossa educação.