Uma gente que não viva só pra si

Será que já não passou da hora de analisarmos enquanto povo o porquê de chegarmos tão perto do abismo? A pandemia escancarou uma verdade que insistimos em não ver. Precisarmos urgentemente mergulhar no mais profundo de nós, como gente brasileira, para buscarmos as respostas quanto aos resultados da realidade que construímos ao longo de décadas ou séculos, mesmo que muitas vezes manipulados.

“Tu  te tornas responsável pela manipulação da qual pensa ser vítima”. Pois é a falta de aprender a “ler a vida”  que produz manipulação. Não somos vítimas dos políticos. Não somos vitimas das elites egocêntricas insensíveis ao sofrimento causado por monstruosas desigualdades sociais e falta de oportunidades para outros horizontes na vida. É a omissão que nos faz fugir do que nos oprime sem reagir.

Uma gente que não viva só pra si já teria transformado esse país há muito tempo e não teria o fantasma que nos empurra para o abismo de dias incertos que ainda podem vir.  Por que um judiciário, quase sempre podre, interpreta leis conforme lhe convém e não abre mão de privilégios surreais?

Por que dessa elite que ‘faz que não vê’ a fome nas ruas? Por que tanta falta de civilidade, de gente que fura a fila da vacina e despreza o sofrimento de vidas? Por que tanta falta de empatia, tanta ignorância e ódio estão nos tornando tão infelizes? Por que temos que aguentar pagar o preço que o ‘Centrão’ cobra para evitar o impeachment de presidentes? Ontem pagamos por Michel Temer, hoje por Jair Bolsonaro. E, afinal, como e por que chegamos a Bolsonaro na presidência?

É, parece o fim do caminho. Sinto até medo quando lembro que diziam que a Venezuela não seria aqui. Pode não ser, mas a cada dia parece mais perto.

Mas, talvez, depois da tempestade que vivemos venha a bonança de uma nova consciência que revele que não há ‘Salvador da Pátria’ ou ‘ungido’ que transforme a realidade de uma nação.  Quem constrói e também pode mudar realidades é o coletivo. ‘Vós povo, não sabeis a força que tens!’ 

Portanto, não adianta culpar o presidente, o judiciário, a elite egocêntrica, o ‘Centrão’ e muito menos as estrelas. O pesadelo que vivemos foi construído por nossas escolhas, omissão e falta de consciência do que é ser um cidadão e do que é preciso fazer para CONSTRUIR E VIVER DE FATO UMA NAÇÃO!

Mas, enquanto vivermos presos ao pequeno mundo que gira em função APENAS da ‘minha família, meu filho, meu carro, meu emprego’, nós nunca seremos NÓS. Não poderemos ser uma grande nação enquanto vivermos amarrados ao nosso mundo e nada mais. Precisamos olhar para o quintal do vizinho e ir para as ruas do bairro (não para falar do próximo), mas para pensar em como podemos ser solidários e compartilharmos a busca por solução dos problemas da comunidade e aprenderemos o ‘b.a.ba’ que é  pressionar os políticos que elegemos para a resolução dos problemas.

Assim começaremos a andar pelos caminhos da consciência cidadã que produz mudanças na vida de uma cidade e de um país. Quem sabe assim a sensibilidade nos abrace e possamos nunca mais virar o rosto para a miséria que o egoísmo construiu nesse país. Quem sabe não  paramos de ver na política um jogo entre Corinthians e Palmeiras. Política, na verdade, é arma para defender o melhor para uma coletividade e não para defender políticos profissionais, canalhas e coisas e tais.

Quando esse dia chegar, o dia em que sejamos uma GENTE QUE NÃO VIVE SÓ PRA SI, tudo que leva ao bem comum será despertado. Com essa consciência, toda vida, todo ser e todos nós ganharemos. E melhores dias virão para o Brasil!

Quando será? Não sei e quem sabe? Mas nesse dia viveremos de fato uma nação construída por uma nova consciência que prioriza o coletivo. Não teremos mais a realidade assustadora que nos envolve. E não será porque apareceu algum ‘Salvador da Pátria’, mas por que só uma GENTE QUE NÃO VIVA SÓ PARA SI TEM O DOM DE TRANSFORMAR UM PAÍS!