De acordo com o site Boatos.org, há alguns dias uma história voltou a acender o debate sobre o uso da hidroxicloroquina. Uma longa matéria indica, de forma errada, que o “estudo internacional mais recente” mostrou que países que fizeram uso da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19 tiveram uma taxa de mortalidade 79% menor do que os países que proibiram a substância.
O problema é que a fake news não parou por aí, porque a mesma matéria ainda trazia outras informações falsas. De acordo com a reportagem, o Facebook teria admitido o erro ao “censurar” a hidroxicloroquina de sua rede. Segundo a publicação, o Facebook reconheceu que não deveria ter apagado postagens que falavam sobre o estudo que teria conseguido provar a eficácia do medicamento. Confira:
VERSÃO 1: “Facebook admite que “cometeu um erro” ao censurar hidroxicloroquina. Rede social reconhece que “cometeu um erro” ao apagar postagem com estudo demonstrando efetividade do medicamento”. VERSÃO 2: “Facebook admite que “cometeu um erro” ao censurar hidroxicloroquina E AGORA FOICEBOOK??? A censura contribuiu para DESINFORMAÇÃO, ÓDIO e MORTES… mas e agora FOICEbook???”.
A informação caiu como uma bomba nas redes sociais, em especial, no próprio Facebook, mas a história é falsa.
O tal estudo que mostraria que países que usaram a hidroxicloroquina no tratamento contra a Covid-19 tiveram 79% menos mortes pela doença do que países que proibiram o uso da substância não existe. O site que publicou a reportagem não é uma fonte confiável e já publicou diversas outras fake news. Além disso, a reportagem usa como referência um site que é menos confiável ainda (e que mistura resultados de pesquisa confiáveis com dados fantasiosos).
Ao procurar por mais informações, descobrimos que o “arrependimento” por parte do Facebook não foi bem assim. A rede social não se arrependeu. O que houve foi uma confusão em relação à decisão do Comitê de Supervisão do Facebook, o Oversight Board. Em janeiro de 2021, o Comitê publicou uma decisão que revogava a decisão do Facebook de excluir uma publicação que criticava a falta de coerência da Agência Nacional de Segurança do Medicamento, na França, em outubro de 2020. A postagem questionava a liberação de determinados medicamentos sem comprovação científica para o tratamento da Covid-19 e a proibição de outros.
Na ocasião, o Facebook afirmou que a publicação violava a regra de desinformação e dano iminente, contribuindo para o risco de dano físico durante a pandemia. Ainda segundo o Facebook, a publicação continha alegações de que a Covid-19 teria uma cura e poderia levar muitos usuários a ignorarem as orientações de saúde ou se automedicarem. Já na visão do Comitê de Supervisão, a postagem não incentiva o uso dos medicamentos, mas apenas questiona a política governamental. Além disso, o Oversight Board ainda destacou que os medicamentos citados na publicação não são vendidos sem prescrição médica na França.
Vale ressaltar que o Oversight Board é um comitê externo (e não representa os interesses do Facebook), sendo composto por lideranças e especialistas de diversos países e têm como objetivo avaliar conteúdos e decisões do Facebook em relação à exclusão de postagens.
Por fim, em nenhum momento o Oversight Board ou o próprio Facebook discutiram sobre uma possível eficácia da hidroxicloroquina. Na realidade, a avaliação foi para entender se a postagem falava, de forma direta, que a substância poderia curar a Covid-19 ou incentivava o seu uso. Além disso, o Comitê de Supervisão também orientou o Facebook a criar um novo Padrão de Comunidade sobre desinformação da saúde, visando à situação da pandemia, para que as regras sejam mais claras e facilmente acessíveis. E bem, nem precisamos repetir que a hidroxicloroquina não só NÃO TEM comprovação científica no tratamento da Covid-19, como estudos indicam que o medicamento pode desencadear diversos outros problemas de saúde.
Fonte: Boatos.org