A primeira Casa Afro Brasil do Estado de São Paulo foi inaugurada na noite de terça-feira, 22, na Estância Turística de Barretos. A parceria com o Governo Estadual tem como objetivo o reconhecimento e valorização da história e cultura afro-brasileira, promoção de políticas públicas de desenvolvimento social e econômico, justiça, enfrentamento ao racismo religioso, institucional e estrutural.
Para a Prefeita Paula Lemos, a data é mais um marco histórico para Barretos. “Que seja a porta aberta para a vida das pessoas”. Foi a frase que a chefe do Executivo fez questão que fosse repetida para marcar o momento de abertura da Casa Afro Brasil. Ela explicou sobre seu intuito de que as três Casas: Afro Brasil, da Juventude e da Mulher fossem construídas lado a lado. “Se não fosse uma exigência legal, eu nem construiria muro entre elas. A mulher negra é a que mais sofre violência. A dificuldade de emprego para o jovem negro é maior. Essas três casas estão lado a lado para se apoiarem, com o intuito que sejam aproveitadas por todos”, afirmou.
Paula lembrou um relato, que ouviu uma vez em uma audiência pública na Câmara e que foi muito marcante para ela. “A violência está em diversas formas. Essa mulher contou que estava em trabalho de parto e, sem fazer nenhum tipo de exame, o médico disse ‘a negra é forte, ela aguenta’ e foi atender a branca, em um preconceito evidente, porque não é assim que você escolhe quem vai atender primeiro”, disse. Paula reforçou que tem orgulho do barretense assumir sua cor e lutar por seu espaço, surgindo de nossa cidade grandes lideranças negras, mas pontuou que as oportunidades não são iguais e a luta precisa continuar. A prefeita também mencionou que deixou claro ao vereador Raphael Silvério que tinha todo interesse em ter essa Casa na cidade, mas como ela já havia pleiteado muitos equipamentos ao governo do Estado, deixaria essa missão com ele, dando os aceites necessários.
Representando o governador Rodrigo Garcia e o secretário de Desenvolvimento Regional, Rubens Cury, o secretário executivo do Centro de Equidade Racial, Ivan Lima, também parabenizou Silvério pelo empenho. “Algumas pessoas foram muito importantes para que esse projeto estivesse de pé hoje. Então a palavra é gratidão. Gratidão, primeiro ao (então) governador João Doria. Ele foi o primeiro a pensar essas casas. A ideia nasceu com a Casa da Juventude, foram 60 casas em diferentes regiões do Estado, depois a Casa da Mulher. Foi então que reivindiquei a Casa Afro, e aqui estamos, inaugurando a primeira”, afirmou. Também estendeu o agradecimento ao governador Rodrigo Garcia, pelo empenho para que as obras se concretizassem.
Tocado pela atitude da prefeita Paula Lemos, de chamar diversas lideranças negras, em vez de manter o protocolo com poucas autoridades em cima do palco, Ivan mudou última hora a fala que havia planejada e contou sobre a filosofia africana Ubuntu, fazendo menção a um experimento em que, em vez de disputar uma cesta cheia de doces, as crianças africanas deram as mãos e comeram todas juntas, dizendo: ‘Como uma de nós poderia estar feliz se todas as outras estivessem tristes? ’. “Eu gostaria que a filosofia Ubuntu fosse a semente plantada nesta Casa. Essa sua atitude, Paula, de chamar as lideranças negras para o palco, demonstra que você tem essa filosofia contigo: Só existo porque todos nós existimos. Sou quem sou porque somos todos nós”, afirmou.
O vereador Raphael Silvério se emocionou muito, agradeceu às lideranças negras do município, à prefeita Paula pelo apoio e contou como foi a conversa com o Ivan e o empenho do representante estadual para que a Estância Turística de Barretos fosse contemplada com essa unidade. “Eu defendo meu povo. Nós precisamos e temos que ter mais representatividade”, afirmou o vereador, destacando as pessoas negras que compõem a equipe do executivo na atual gestão.
Ana Paula Ferreira, presidente da Comissão de Igualdade Racial (COMIR), fez agradecimentos às autoridades e especialmente aos conselheiros. “Agradeço a cada um que nos ajudou até este momento”, enfatizou.
Francisco Salviano Miranda, o “Tico”, coordenador do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (COMPI), reiterou os agradecimentos ao vereador Raphael Silvério e à prefeita Paula Lemos, ressaltando o pioneirismo da Estância Turística de Barretos ao inaugurar a primeira Casa Afro Brasil no estado e o esforço de ambos. “São três casas em lugar nobre, e a gente vai usar as três”, afirmou. Tico agradeceu ainda a secretária de Governo, Graça Lemos, pelas diversas demandas da comunidade afro que já atendeu ao longo dos anos.
A secretária de Assistência Social e Desenvolvimento Humano, Vitória Saretta, responsável pela pasta a que a Casa ficará vinculada, cumprimentou a comunidade negra, agradeceu a Paula Lemos e ao vereador Raphael Silvério. “Além dessas três casas, que não estão em qualquer lugar, estão em lugar nobre, no Jockey Club, temos também há poucos metros dessas três casas, o Vida Longa, com 28 casas para os nossos idosos morarem. Fruto de muito trabalho da nossa prefeita, em trazer equipamentos para a nossa população”, afirmou. Vitória fez questão de encerrar sua fala lembrando uma frase que foi compartilhada no grupo de assistentes sociais durante as celebrações do mês da Consciência Negra: Numa sociedade racista não basta não ser racista. É preciso se antirracista”.
Álvaro de Oliveira Júnior, filho do líder comunitário que dá nome à Casa, agradeceu as homenagens a seu pai. “A casa vai levar o nome certo, do Álvaro de Oliveira, o Alvinho. Ele sempre foi um líder comunitário da raça negra, foi um dos pioneiros da criação do Conselho Negro de Barretos, participando da primeira formação, com outros companheiros e companheiras”, destacou.
Também estiveram presentes os secretários municipais de Cultura, Rogério Teodósio, e de Educação, Jéssica Maria dos Santos, que também são lideranças negras no município. O vereador Nestor Leonel e Itamar Borges, chefe de gabinete da prefeita, também estiveram presentes no evento.
Para a construção da Casa Afro Brasil, o município de Barretos assinou convênio com o governo paulista no valor de R$ 765 mil e fez investimento na obra de R$ 52.810,68 como contrapartida, além de R$ 7.689,00 que foram utilizados para compra de mesas, cadeiras, fogão, geladeira e sofá. Após as falas das autoridades e execução dos hinos, a expressividade da cultura negra ganhou espaço dentro da casa, com apresentações e exposição de quadros.