Um beijo do Gordo

A “luz” da alegria, do conhecimento, da cultura e do humor, que tem o dom de fazer refletir, perde muito do brilho com a partida de Jô Soares. O Brasil e todos nós perdemos muito sem a luz que a inteligência do Jô emanava. O conhecimento está mais triste num país em que a ignorância e os dias tristes parecem cada dia maiores.

Ainda ecoa no meu pensamento imagens dentro da imensidão, que é o legado para a cultura deixado por esse ícone, e a lembrança de sua última entrevista, quando diz que apesar cenário que vivemos, não se desesperava, porque tinha esperança no Brasil. E que a busca por mais educação, cultura e, consequentemente, conhecimento, apesar de hoje, nos conduza de novo a um horizonte que descortine mais e mais a esperança em douradas manhãs. Que a gente nunca perca a esperança mesmo diante do obscurantismo que está no poder.

Quantas noites não dormi direito esperando o Programa do Jô (bem depois) das Onze e Meia! Décadas de observações, reflexões num percurso de mais de 14 mil entrevistas. Como era difícil dormir sem ver o Jô! Mesmo que no outro dia fosse complicado esconder o sono e as olheiras dos olhos atentos do meu chefe, mas valia e como valia a pena.

Obrigado Jô! Pelas noites em que passei sono para observar e aprender contigo e com seus entrevistados. Obrigado por todo o talento deixado em sua obra além do tempo que vier. E pelas reflexões despertadas em mim com seu humor que sempre tinha um fundo político, mesmo nos anos de falta de liberdade. Mais triste é que, infelizmente, hoje a estupidez não vê que democracia é tão importante quanto o ar.

Nessa sexta-feira, ainda mais triste dentro dos dias cinzentos que vivemos, acho que (eu e muita gente) buscará as memórias de um lugar chamado saudade quando te esperávamos, sempre depois das Onze e Meia para assistir o Programa do Jô e, então, receber um Beijo do Gordo!