O dia amanheceu. Será? Parece escuro ainda. São 5h30. Ela pensa em dormir mais um pouquinho, mas sai em sobressalto, lembrando que ela pode até entrar às 10h no serviço, entretanto, a louça na pia a espera.
Louça? Ela não gosta de louça na pia. Pia pra cá e piu: dormiu sem nem ver que faltava fazer serviço do dia anterior. Cansaço não deixou.
Coloca o lixo pra fora, alimenta o cachorro, a gata mia: quer comer ou quer sair? “Miau miau”: “os dois”, em livre tradução.
Vai daqui, vai dali. Vou fazer meu café da manhã, pensa. Vê roupa pra colocar na máquina.
O pão sobre a mesa. Quem dera ele saltasse sozinho para a sanduicheira… Não saltou, não comeu. Vamos de barriga tocando tambor mesmo.
A hora! 5h30 + 3h = acordou bem cedo pra se atrasar com calma. Uma folha cai.
Amor, onde tem máscara?
Qual camisa posso vestir?
O ferro! Se o marido sai com blusa que “saiu do bucho da vaca”, a sociedade vai bradar: a mulher não cuida! E aí vem, realmente, o ferro!
Faz comida, tá? Não interessa se tem tempo, disposição, saúde. O importante é dar arroz e feijão aos crescidos que não sabem (nem querem) aprender a cozinhar. O marido até compreende o prato do dia ser miojo, mas a sociedade…
Uma folha cai.
Os filhos! Se eles existem, aí a hora voa mesmo, sem piedade, imagino eu. A desordem é maior, não no sentido de casa bagunçada, mas a ordem de pensamentos. O relógio vai de foguete de quinze minutos para quarenta e cinco. Um chora e o outro quebra o brinquedo.
Marido, filhos, pets… Vixe, e as plantas? Alguém as regou?
Cadê a dona da pensão que não viu?
Uma folha cai.
Vamos ao trabalho? Mundo infantil esperando, conversas, gritos deles correndo no pátio. “Tia, o que está escrito ali?”. E você percebe que um par de lentes resolveria. Liga pra mãe, fala para comprar óculos. É graças à escola que muitos especialistas entram na família: fonoaudiólogos, otorrinos, oftalmos, etc.
A piscina de bolinhas está vazia. Ora, bolas!
Corre aqui, corre ali. Volta pra casa. Esqueci o mercado! Não tem papel higiênico! Ô m*. Ops, o filho caçula está aqui.
Cai uma folha.
A fila do caixa está enorme. Quinto dia de utilidades e inutilidades. Deixem o mercado noturno só para mulheres! Pra quê comprar cerveja agora? Ah, verdade, tem futebol…
Entra no carro. Começa a louvar a Deus, que a essa altura está falando: “Eis minha filha doidinha, em quem me comprazo.” Gratidão, Senhor, por quem estou me tornando, mas falta uma tarefa: ser sempre a mulher sábia que edifica o lar. Pensamentos…
Cai uma folha.
São 23h58. Se ela não dormir, vai acordar como um urso panda.
Então, ela deita e desmaia. A louça da janta ficou na pia. Fica para o outro dia…
A rotina descrita acima tem um pouco da minha, um pouco da sua, um pouco da nossa.
Mulheres são como árvores: caem folhas, mas elas continuam fincadas com suas raízes. Umas são altas, outras são baixas, umas têm flores, outras só folhas, não importa; é por causa delas que tem ar puro, beleza e sombra.
Empreendedoras, mães, avós, do lar, educadoras, enfermeiras, engenheiras, margaridas, secretárias, gerentes, e por aí vai. O mais importante título seu é: “mulher, árvore frutífera” que se rega com respeito, amor, carinho, compreensão. Porque, no final do dia, com ou sem folhas, seus troncos abrigam inúmeros passarinhos, sua força inspira e todos podem se sentar ao redor para um piquenique de paz em meio à guerra. Pois, ela é amiga, confidente, conselheira. Ela é mulher!
Feliz Nosso 8 de Março! 🌻